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Uma expedição pelas terras do Jalapão

22 de setembro de 2023

Viajar ao Jalapão, no leste do Tocantins, é ter uma sequência de experiências únicas e a oportunidade de admirar uma combinação de cenários que você não encontra em outros destinos, dos fervedouros turquesas às dunas douradas, passando ainda por cachoeiras, cânions, serras, planícies do Cerrado e muito mais. Uma joia no coração do Brasil que permaneceu desconhecida por muito tempo.

Foto por Flávio André – MTUR

Ainda no primeiro dia no Jalapão, ouvi um simples comentário que definiu o destino de uma forma que me marcou pelo resto da viagem: “o Jalapão é bruto”. Bruto pelas longas estradas de terra batida, um solo irregular que liga as pequenas cidades dessa parte do leste do Tocantins. Uma região que foi por muito tempo esquecida, até ser redescoberta pelo turismo.

Foto por Patrícia Chemin

Vale aqui um pouco de contexto histórico: estado mais jovem do Brasil, o Tocantins foi criado só em 1988. Devido à grande extensão territorial de Goiás na época, essa até então porção norte do estado sofria com a negligência do poder público e viu na emancipação a solução para um maior desenvolvimento. Mesmo assim, décadas depois, pouco mudou nas terras do Jalapão. Até que o turismo entrou em cena.

Roteiros turísticos já existiam no Jalapão desde meados dos anos 2000, mas foi só depois de aparecer como cenário da novela “O Outro Lado do Paraíso” (2017), da TV Globo, que a região se tornou popular a nível nacional. A partir daí, a estrutura turística do Jalapão ganhou corpo, com mais pousadas, restaurantes e atrativos abertos a visitantes, quase sempre por meio de investimentos feitos pelos próprios moradores. Hoje, a região ainda sofre pelo isolamento e carece de políticas públicas mais efetivas. Mas, graças ao turismo, seus habitantes têm orgulho dessa terra que agora se abre para o mundo.

Um destino sem igual

Conhecer o Jalapão é voltar com os tênis cobertos de terra, é sentir a areia dos fervedouros no corpo, admirar paisagens que não existem em outro lugar e encontrar um Brasil que foi deixado de lado. É sobre ter memórias para guardar para sempre. Aliás, cada dia no Jalapão parece durar muito mais do que 24 horas, pois tudo é vivido de maneira intensa, dos momentos passados em cada atrativo até os longos trajetos para chegar até eles. Em um mundo regido pelo imediatismo, o Jalapão nos faz desacelerar e nos ensina a esperar, a aproveitar cada segundo.

Foto por Patrícia Chemin

Tem algo mágico em um destino ainda em formação. Ao observar aqueles enormes campos do Cerrado com as serras que emolduram o horizonte, você se questiona que outros tantos lugares incríveis ainda estão escondidos dentro de propriedades privadas ou nem sequer foram descobertos. Talvez daqui a alguns anos o Jalapão já esteja completamente diferente.

A primeira coisa a se ter em mente é que o Jalapão é enorme: são cerca de 34 mil km² (é maior que os estados de Sergipe e de Alagoas). A região fica no leste do Tocantins e seus limites ultrapassam o Parque Estadual do Jalapão, englobando um total de oito cidades, todas com áreas urbanas bem pequenas. Santa Tereza do Tocantins é a mais próxima de Palmas (em torno de 70 km de distância), mas os municípios que concentram a maior parte dos atrativos são Ponte Alta do Tocantins, Mateiros (cidade considerada a capital do Jalapão) e São Félix do Tocantins.

Foto por Patrícia Chemin

Não há uma paisagem específica que define o Jalapão, mas sim uma variedade delas. Dunas douradas, fervedouros de águas cristalinas, praias de água doce, rochas multicoloridas, chapadões que parecem cuidadosamente esculpidos, cachoeiras, cânions e planícies que lembram as savanas africanas. Tudo isso é o Jalapão.

Bem no coração do Brasil, o clima é quente o ano inteiro, variando apenas entre a época da chuva e a da seca. Já o bioma predominante é o Cerrado, que tem uma ligação direta com o nome Jalapão – ele vem de uma espécie de batata comum na região, chamada jalapa. Sua raiz é até hoje usada para fins medicinais.

Os preparativos da expedição

Foto por Patrícia Chemin

Geralmente, quando um destino é de ecoturismo, ele envolve muitas trilhas e caminhadas. Mas o Jalapão é muito mais uma experiência off-road, onde você vai percorrer grandes distâncias dentro do carro, que sempre chega bem perto dos atrativos. Em torno de quatro ou cinco dias, a depender do roteiro escolhido, o percurso total vai de 800 km a 1.100 km de extensão. Lembrando que boa parte disso é fora do asfalto, em um solo bem irregular de terra batida e às vezes de areia. Para aguentar as estradas “brutas” do Jalapão, só mesmo veículos 4×4 bem preparados.

Por tudo isso, o mais recomendado é contratar uma agência local. Há várias delas com base em Palmas, que oferecem pacotes e passeios bem semelhantes – o que muda mesmo é o serviço. Para essa viagem, nossa agência foi a 100 Limites Expedições, empresa parceira da Schultz Operadora no Jalapão.

Foto por Patrícia Chemin

Como as distâncias são bem longas entre os atrativos, os roteiros quase sempre são no formato de expedição. Ou seja, é feito um circuito pelo Jalapão, de modo a aproveitar melhor o tempo, e você vai passar cada noite em uma cidade diferente. O que nos leva à mais uma dica: prepare uma bagagem pequena, apenas com o necessário. Algumas agências, inclusive, pedem que você não leve malas rígidas e com rodinhas, dando preferência a mochilas de até 20 litros, já que esses itens são transportados em bagageiros externos no teto do carro. Como as estradas fazem o veículo balançar, qualquer mala mais dura pode quebrar durante os trajetos.

Os carros usados pelas agências costumam ter capacidade para até seis viajantes, mais o guia/motorista, grupo que permanece o mesmo até o fim da expedição. Os veículos também são equipados com rádio comunicador, caso seja necessário pedir ajuda por algum problema mecânico ou outra emergência. Na 100 Limites Expedições, todos os carros levam ainda água, refrigerantes, frutas e biscoitos doces e salgados para os passageiros.

Foto por Patrícia Chemin

Ao fechar um pacote de expedição, praticamente tudo estará incluso: entrada nos atrativos, transporte, guia, hospedagem em pousadas da região e alimentação (café da manhã, almoço e jantar). Então você não precisa se preocupar com o planejamento. Só as bebidas costumam ser à parte, além de atrações opcionais, como tirolesas, rafting, boia cross e outras atividades mais radicais.

Já deu para perceber que o rústico faz parte da identidade do Jalapão, mas a maioria dos atrativos está ganhando cada vez mais estrutura – vale destacar aqui que quase todos estão dentro de propriedades privadas. É difícil um atrativo que não ofereça banheiros, por exemplo, além de um ponto de venda de comida e bebida. Alguns são ainda mais completos, com pousadas próprias e lojas de presentes. O que realmente permanece mais “bruto” são as estradas – o asfalto dá as caras apenas perto de Palmas e nas pequenas áreas urbanas da região. Além disso, o sinal das operadoras de celular em todo o destino é muito fraco e, dependendo da empresa, até inexistente. Por isso, prepare-se para se desconectar (o que, no começo, pode parecer uma inconveniência, mas depois se transforma em libertação – acredite).

Foto por Patrícia Chemin

Com poucos habitantes, o Jalapão é formado por aquelas típicas cidades dos rincões do Brasil, todas muito tranquilas, sempre com pessoas conversando sentadas em frente a suas casas. É difícil ter acesso a alguns serviços, como agências bancárias, mas você encontra mercadinhos, bares e sorveterias. Administradas por locais, as pousadas também são simples, porém confortáveis, geralmente com banheiro privativo, ar-condicionado, TV, wi-fi e café da manhã. Algumas têm até piscina, bar e áreas de convivência.

Foto por Patrícia Chemin

As refeições costumam acontecer em pequenos restaurantes próximos aos atrativos, ou então nas próprias pousadas. Os restaurantes também têm estruturas mais simples e muitos deles estão junto às casas das famílias proprietárias. Todos costumam funcionar da mesma maneira, na qual você pode se servir quantas vezes quiser e recuperar as energias com uma comida bem caseira e saborosa. Se encontrar, vale experimentar pratos típicos do Jalapão, cuja culinária tem grande influência dos estados vizinhos, como Goiás e Bahia. Tem o chambari (corte da perna do boi com o osso, também conhecido como ossobuco, cozido por várias horas), a paçoca de carne de sol (como uma farofa de farinha de mandioca e a carne bem sequinha) e a galinhada com pequi, para mencionar alguns pratos.

1º dia: Lagoa do Japonês e Pedra Furada

Logo cedo pela manhã, malas a bordo e o grupo preparado para partir de Palmas. Começamos aí nossa viagem com a 100 Limites Expedições, para um total de quatro dias e três noites no Jalapão (lembrando que há outros diversos roteiros possíveis, com durações, passeios e rotas diferentes).

Foto por Patrícia Chemin

Depois de uma parada estratégica no pequeno café Anabia, em Santa Tereza do Tocantins, a parte seguinte do trajeto já dá o tom da viagem, com algumas horas de estrada até a cidade de Pindorama do Tocantins. O município não faz parte do Jalapão, mas sim da região das Serras Gerais. No entanto, integra também os roteiros do Jalapão graças a um atrativo que é um dos favoritos entre os turistas: a Lagoa do Japonês. Antes da visita, porém, a hora do almoço já indicava uma parada no Restaurante da Minervina, pertinho da lagoa. Bem aconchegante, com uma saborosa comida caseira feita no fogão à lenha – carne com mandioca, farofa, pirão de galinha caipira e verduras da horta local.

Foto por Patrícia Chemin

Enfim, a chegada ao primeiro atrativo da viagem: a Lagoa do Japonês é um verdadeiro oásis em pleno Cerrado. A água é totalmente cristalina, em vários tons de azul, e tem uma temperatura agradável. Depois de horas de estrada e no meio de um dia quente, um bom mergulho é muito bem-vindo. Ali você pode nadar livremente entre os peixes, e a profundidade varia bastante. Só tome cuidado com as pedras submersas, que têm superfícies bem ásperas que podem cortar a pele. Por isso, é recomendado o uso de sapatilhas aquáticas (se você não tiver, pode alugar no local).

Foto por Patrícia Chemin

Só essa primeira visão já é encantadora o suficiente, mas, se você nadar até a gruta que existe no final da lagoa vai se deparar com um cenário ainda mais incrível. Essa parte da lagoa, onde fica a nascente, é cercada por um enorme paredão rochoso, de onde pendem as raízes das árvores mais acima. A água tem um tom de azul ainda mais intenso, e ali a profundidade chega a 4 metros. O visual é de um paraíso perdido. Quem não sabe nadar pode fazer o percurso até a gruta em um barquinho comum ou transparente (pagos à parte).

Foto por Patrícia Chemin

Mais duas horas na estrada levam à Pedra Furada, em Ponte Alta do Tocantins, a tempo de assistir ao pôr do sol em uma das paisagens mais icônicas do Jalapão. A Pedra Furada é um morro de arenito, cujos desgastes sofridos naturalmente ao longo de milhões de anos criaram formatos incríveis na rocha. São como portais e janelas que parecem talhados intencionalmente. É possível ver ainda as diversas camadas de sedimentos que variam em tons avermelhados.

Foto por Flávio André – MTUR

A trilha dá uma volta quase completa na Pedra Furada, incluindo um pequeno platô da própria rocha em um trecho mais elevado. Cada canto vale uma foto diferente, com panoramas incríveis de fundo, já que ao redor se estende uma enorme planície do Cerrado e diversas serras no horizonte. Ao pôr do sol, o local é ainda mais especial, com uma luminosidade única e ao som de diversos pássaros que sobrevoam a Pedra e fazem seus ninhos em buracos na rocha. Vale dizer que a área também é habitada por abelhas africanas, mas não há motivo para preocupações. É só não fazer barulhos altos e não matar as abelhas.

Foto por Patrícia Chemin

Para a primeira noite da expedição, a hospedagem também é em Ponte Alta do Tocantins, mas no centro da cidade, onde há diversas pousadas. O pernoite foi na Pousada Ecológica, um empreendimento mais recente, com quartos bem aconchegantes e um clima de casa de fazenda. E o jantar bem servido na simpática Pousada Barreira.

2º dia: Cânion, Rio Novo e Dunas

Os dias no Jalapão começam cedo, para aproveitar todo o período de luz do sol disponível. Ainda em Ponte Alta, mas a alguns minutos da área urbana, o primeiro passeio é o Cânion Sussuapara. O nome vem de uma espécie de animal do Cerrado, o cervo-do-pantanal, também chamado de suçuapara. Hoje, é difícil avistar esse tipo de cervo na região, assim como outros mamíferos típicos, como onças, capivaras e antas. Mas você pode ter sorte e conseguir mesmo assim.

Foto por Patrícia Chemin

Voltando ao cânion, não é exagero dizer que esse é um dos lugares mais surpreendentes do Jalapão. Por estar um pouco escondido pela mata ao redor, é só depois de descer a escada que dá acesso ao interior do cânion que você consegue ter a dimensão do que é esse lugar. Formado pelo aprofundamento lento do curso de um pequeno rio, o que talvez tenha levado milhões de anos para acontecer, é como um corredor um pouco estreito e cercado por paredões rochosos.

Foto por Patrícia Chemin

O que mais chama a atenção são as enormes raízes das árvores na borda superior do cânion, que descem pelas rochas como um jardim vertical. Por estar em uma vereda (terreno do Cerrado que se mantém mais úmido mesmo em épocas de seca), a água escorre continuamente do solo acima do cânion pelas rochas e por essas raízes, pingando sem parar. A impressão é que está chovendo.

Foto por Flávio André – MTUR

No meio do cânion passa um riacho bem raso e totalmente cristalino. A água bate só na altura dos tornozelos, e você vai caminhando pelo curso d’água. Curvas revelam novos cenários incríveis, até chegar na ponta final do cânion, um grande salão com uma pequena cascata no meio de uma fenda. É um lugar com uma energia especial.

Partindo de Ponte Alta, o asfalto fica de vez para trás. É aí que começa o mais longo trajeto de carro da expedição: cerca de 3h sem paradas até o Rio Novo. Sempre em estrada de terra, entre alguns trechos mais estáveis e outros que só um motorista mais habilidoso consegue atravessar com tranquilidade. As estradas são praticamente desertas, então, se alguém precisar de um banheiro, a única opção é o mato mesmo.

Para além das janelas do carro, grandes planícies se abrem por todos os lados, enquanto novas serras surgem no horizonte e vão se aproximando aos poucos. Nesse trajeto de algumas horas, o Cerrado aparece em suas diversas versões, de uma vegetação mais rasteira em um terreno árido até uma mata mais fechada, com árvores maiores.

Foto por Patrícia Chemin

Enfim, chegamos ao Rio Novo. Parte do município de Mateiros, é uma das nove comunidades quilombolas do Jalapão, provenientes das primeiras famílias vindas do Nordeste que se instalaram na região há 200 anos, fugindo da seca, da fome e dos senhores de engenho. No Rio Novo, o almoço foi servido no restaurante Flor do Jalapão, erguido em uma estrutura simples de palha e madeira e chão de areia. A comida, como sempre, muito saborosa. Depois, aproveite para experimentar sorvetes de frutas e castanhas do Cerrado e outros sabores locais na sorveteria em frente.

Foto por Patrícia Chemin

Bem pertinho está a Praia Coração do Jalapão (ou do Pixico), onde você pode se refrescar no Rio Novo, um dos maiores rios de água potável do mundo. Ele tem uma forte correnteza, mas há uma faixa mais rasa que é segura para banho. A água é cristalina, porém mais fria, o que garante um refresco depois de um dia de muito calor. Quem preferir pode só aproveitar o sol na faixa de areia. No entorno dessa praia de água doce, dá para ver o famoso capim dourado do Jalapão crescendo na natureza.

Foto por Patrícia Chemin

Em mais alguns minutos de estrada chegamos ao bar Recanto das Dunas, que serve como um ótimo ponto de apoio aos turistas entre um passeio e outro. Por todos os lados, um grande descampado e uma vista perfeita para a Serra do Espírito Santo, mas, no bar, há uma boa estrutura, música, redes para descansar, um cardápio de drinques com ingredientes regionais e cenários para fotos. Um deles é a “Árvore dos Desejos”, um tronco solitário no qual você pode amarrar uma daquelas fitinhas coloridas enquanto faz um pedido.

O último passeio do dia é um dos mais especiais da expedição: as Dunas do Jalapão. Dentro do Parque Estadual do Jalapão, unidade de conservação integralmente no município de Mateiros, é um dos poucos atrativos fora das propriedades privadas, com o controle feito pelo Naturatins (Instituto Natureza do Tocantins). Para entrar, é obrigatório estar acompanhado por um guia.

Foto por Patrícia Chemin

Ao atravessar um riacho rasinho e cercado por buritis, um paredão de areia dourada aparece. Só a visão dele já é majestosa, mas nem se compara ao que você vai encontrar ao caminhar duna acima e o lado oposto enfim se revelar. Grandes ondas de areia de até 40 metros de altura se espalham por uma área enorme. Um sobe e desce em constante formação e transformação, enquanto a Serra do Espírito Santo aparece para coroar esta vista totalmente desimpedida de 360º. Fica até difícil escolher qual o ângulo mais bonito. 

Foto por Patrícia Chemin

É extraordinário ver um cenário desse tipo em pleno Cerrado, tão longe do litoral. São momentos assim que fazem qualquer trajeto de 3h em estrada de terra valer a pena. Ali você é livre para caminhar pela areia fininha, mas sem chegar perto da borda, tirar muitas fotos ou só sentar enquanto aprecia toda a magnitude da natureza à sua volta. O melhor é visitar as Dunas de manhã cedo ou ao fim da tarde, pois no meio do dia a areia fica muito quente e o ideal é andar descalço por ali. O pôr do sol é um período especialmente popular, quando você é presenteado com um espetáculo para guardar na memória.

Foto por Patrícia Chemin

As Dunas do Jalapão são formadas pela erosão natural da Serra do Espírito Santo, e a areia que resulta desse desgaste é acumulada ali graças à ação do vento e da chuva. Como as rochas são compostas por uma combinação de ferro, arenito e quartzo, é essa mistura de minerais que dá a coloração dourada das dunas.

De volta ao carro, seguimos no sentido do centro de Mateiros, para jantar no restaurante Rancho Extremo, cujo buffet tem uma boa variedade de pratos e o cardápio de bebidas conta com drinques autorais, e pernoite na Pousada Buritis, cercada por jardins bem cuidados.

3º dia: fervedouros e Cachoeira do Formiga

Já foi dito aqui que os dias no Jalapão começam cedo. Mas nada se compara a essa “manhã” em Mateiros, quando os corajosos acordam às 4h da madrugada para um passeio opcional: o nascer do sol no Morro do Jacurutu. O horário é para aproveitar também o céu noturno.

Foto por Patrícia Chemin

Ao chegar em um lugar que parece ser no meio do nada, o grupo sobe a pé por uma trilha morro acima, por cerca de 400 metros de extensão. Tudo está imerso em um completo breu, cada um tendo apenas a luz da lanterna do próprio celular como guia. No topo, há bancos de madeira em meio às pedras, além de chá e café quentinhos para ajudar a amenizar o frio.

Foto por Patrícia Chemin

O Jacurutu é o ponto mais alto dessa área, então a imensidão do céu surge em toda sua glória. E que espetáculo é olhar para cima. Pela ausência de luzes das cidades, aparece uma infinidade de estrelas brilhantes. Principalmente para quem mora em grandes centros urbanos, essa é uma experiência sem igual. Dá até para identificar constelações e admirar estrelas cadentes. As câmeras não são capazes de captar essa beleza, e é até melhor assim: use seu tempo apenas para observar e guardar as imagens na memória, deixando o celular de lado por um momento. Até que as estrelas vão apagando, o horizonte começa a ser iluminado aos poucos e faixas de todas as cores do arco-íris vão surgindo no céu em um show de luzes. E o sol finalmente sobe sobre o Jalapão.

Foto por Patrícia Chemin

Mas o dia ainda reservava outras visões espetaculares. Ainda na parte da manhã, em Mateiros, visitamos uma sequência de três fervedouros. Sempre lembrados quando o assunto é Jalapão, os fervedouros são piscinas naturais formadas pelo fenômeno da ressurgência, a água que brota constantemente a partir dos lençóis freáticos e através do solo arenoso. Como parece que a água está borbulhando por uma fervura, foi dado esse nome – mas isso fica só na aparência mesmo, já que não se trata de águas termais.

Os fervedouros variam em tamanho, coloração (que vai do azul turquesa ao esverdeado), profundidade, pressão da ressurgência, temperatura da água e vegetação ao redor, mas cada um tem seu encanto próprio. Concentrados principalmente entre Mateiros e São Félix, há cerca de 40 catalogados no Jalapão e mais de 20 abertos à visitação.

Foto por Patrícia Chemin

É impossível não se apaixonar pelos fervedouros. A água é totalmente cristalina, com vários peixes bem pequenos, e cercada por muito verde. No fundo, apenas uma areia branquinha. Nos pontos onde acontece a ressurgência, a profundidade real chega a ser de 60 a 120 metros. Porém, graças à pressão da água, não tem como afundar ali, mesmo quando você tenta mergulhar. Você apenas sente a água te empurrando para cima e a areia fininha mexendo em volta dos seus pés. É como flutuar sobre uma nuvem. Os fervedouros desafiam nossas percepções: você vê um “fundo”, mas não o sente.

Foto por Patrícia Chemin

Para a preservação dos fervedouros, há uma série de regras a seguir, como um número limite de pessoas que podem entrar nele por vez, um tempo máximo de permanência (que costuma ser de 15 a 20 minutos), a proibição de pular na água e a de usar produtos como protetor solar e repelente.

Foto por Patrícia Chemin

É difícil escolher um fervedouro favorito, mas o primeiro que você conhece fica marcado como sendo muito especial na sua memória. Neste caso, foi o Fervedouro do Ceiça, o primeiro a ser descoberto e aberto à visitação no Jalapão. É menor em circunferência, com uma água morninha, e nas áreas de ressurgência a “nuvem” de areia chega até a altura dos joelhos.

Foto por Patrícia Chemin

Já o Fervedouro Recanto do Salto é mais amplo, porém bem rasinho, perfeito para quem não tem muita intimidade com a água. E, por último, o Fervedouro Buritis, um dos mais profundos, com uma forte pressão na ressurgência. A areia do fundo também é diferente, mais fininha e com grãos quase brilhantes. Na mesma propriedade, foi servido o almoço, uma comida caseira preparada com cuidado pela família que cuida do fervedouro.

Foto por Patrícia Chemin

No caminho para o próximo atrativo, uma parada na comunidade quilombola Carrapato para compra de artesanato na Cabana da Jane, onde todos os itens à venda são feitos com uma delicada e intrincada trama de capim dourado. Considerado o ouro do Jalapão, essa planta rara com uma longa haste dourada é a matéria-prima de uma série de produtos, como brincos, pulseiras, bolsas, cestas, itens de decoração e muito mais. Famoso até fora do Brasil, o artesanato de capim dourado ainda é a principal fonte de renda para muitas famílias da região. Para proteger a planta, todo o processo produtivo é controlado por lei, desde o plantio e a colheita, que só acontece em uma certa época do ano e tem que ser feita por pessoas autorizadas, geralmente os próprios artesãos.

Foto por Patrícia Chemin

Na sequência, ainda no município de Mateiros, chegamos à Cachoeira do Formiga. São muitos os aspectos que fazem dela um dos atrativos favoritos entre os turistas. Para começar, ela conta com uma linda piscina natural de águas cristalinas, cuja tonalidade varia do verde esmeralda a um surpreendente azul turquesa, de acordo com a incidência do sol. Diferente de outras cachoeiras, a do Formiga tem uma temperatura muito agradável, quase morna, sendo perfeita para um bom mergulho.

Foto por Patrícia Chemin

A próxima cidade do roteiro é São Félix do Tocantins. Nossa chegada foi ainda no fim de tarde, com tempo de sobra para aproveitar o bar e a piscina da Pousada Cachoeiras do Jalapão antes do jantar.

4º dia: Bela Vista e Parque Encantado

Foto por Patrícia Chemin

O último dia da expedição começa no Fervedouro Bela Vista, em São Félix. Esse é um dos maiores da região, parecendo uma grande piscina. A área de ressurgência também é bem ampla, cobrindo quase toda a circunferência do fervedouro. O Bela Vista conta com uma das estruturas mais completas entre os fervedouros do Jalapão. A começar pelo próprio deque em torno da piscina natural – ali fica uma torre de observação, de onde você pode tirar fotos do fervedouro do alto. O atrativo oferece ainda uma pousada própria, restaurante e loja de presentes.

Foto por Patrícia Chemin

No meio do caminho para o último atrativo da viagem, foi realizada uma parada para fotos na Serra da Catedral, que surge imponente quase à beira da estrada. Uma das faces de pedra é reta, esculpida pelos ventos, com um formato que lembra a entrada de uma catedral.

Foto por Patrícia Chemin

Já no município de Novo Acordo, o Parque Encantado é o lugar certo para se refrescar em um dia quente. Depois de um almoço bem servido, é hora de entrar na água. Primeiro no Poço Encantado, um lago de águas profundas, com uma tonalidade mais escura, que lembra refrigerante, e muitos peixes. Os mais corajosos podem mergulhar no meio do lago, mas quem prefere algo mais tranquilo pode só curtir o sol em uma área bem rasinha que fica ao lado.

Foto por Patrícia Chemin

Seguindo o caminho feito por essas águas, há uma sequência de pequenas cascatas e cachoeiras na descida do morro. As pedras ali formam piscinas naturais dos tamanhos mais variados, das mais abertas a outras que parecem ofurôs individuais. É só escolher um espaço e aproveitar esse spa da natureza. Em dias bem ensolarados, a água chega a ficar quase morna.

Antes do fim da tarde, embarcamos no trajeto final de volta a Palmas. As estradas de terra aos poucos ficam para trás, e boa parte desse caminho acontece sobre o asfalto. Já é noite quando chegamos a Palmas, para uma despedida emocionante entre todo o grupo da expedição. O fim dos quatro dias no Jalapão, dias intensos que parecem ter se multiplicado.

Por causa dos horários da expedição, o mais indicado é reservar seus voos para um dia antes da saída e um dia depois da chegada a Palmas. Então você pode aproveitar esse tempo extra para conhecer essa que é a capital mais jovem do Brasil. Algumas agências, como a 100 Limites Expedições, oferecem passeios opcionais na cidade, como passeio de lancha no Lago de Palmas e tour no distrito de Taquaruçu, que é repleto de cachoeiras.

 

SERVIÇOS

Como chegar

O aeroporto de Palmas é o mais próximo do Jalapão e recebe voos da Azul, da Gol e da Latam com origem em várias cidades do Brasil. Reserve seus voos considerando a ida um dia antes da expedição e a volta um dia depois. Para o roteiro no Jalapão, o mais indicado é fechar um pacote com uma agência local.

Onde ficar

PALMAS

Vivence Suítes Hotel Palmas – vivencehoteis.com.br

ibis Styles Palmas – all.accor.com

Hotel 10 Palmas – hotel10.com.br

Dicas

Itens importantes para levar: roupas leves e de banho, toalha para usar nos atrativos, camisetas de manga comprida com proteção UV, boné ou chapéu, sapatilhas aquáticas ou papetes, casaco para usar à noite, óculos de sol, óculos de natação ou mergulho, protetor solar, repelente, colírio, soro nasal, hidratante labial, itens de higiene pessoal, medicamentos, squeeze, power bank, uma mochila maior para levar no bagageiro superior do carro (cerca de 20 litros) e outra menor para carregar nos passeios.

As formas de pagamento mais aceitas no Jalapão são dinheiro em espécie ou Pix. É interessante levar dinheiro para despesas extras, como artesanatos, souvenires ou um ocasional sorvete, além das bebidas, que não costumam estar inclusas nos pacotes.

A região não tem muito sinal de telefonia e de internet 3G (no caso, a melhor cobertura é a da Claro). As pousadas costumam ter wi-fi gratuito.

Passeios

100 Limites Expedições – jalapao100limites.com.br

Pacotes turísticos

TZ Viagens – tzviagens.com.br

Schultz – schultz.com.br/jalapao

Pacote Schultz Jalapão Express

06 dias e 05 noites, hospedagem com café da manhã (Palmas, Ponte Alta, Mateiros e São Félix), traslado aeroporto/hotel/aeroporto, expedição em veículo 4×4 com serviço de bordo, pensão completa nas cidades do Jalapão, motorista-guia autorizado e entrada nos atrativos. Valor por pessoa em acomodação dupla ou tripla: a partir de R$ 2.615,00 para embarque em 2023.*

Pacote Schultz Jalapão para Todos

07 dias e 06 noites, hospedagem com café da manhã (Palmas, Ponte Alta, Mateiros e São Félix), traslado aeroporto/hotel/aeroporto, expedição em veículo 4×4 com serviço de bordo, pensão completa nas cidades do Jalapão, motorista-guia autorizado e entrada nos atrativos. Valor por pessoa em acomodação dupla ou tripla: a partir de R$ 3.293,00 para embarque em 2023.*

*Atendimento via uma agência parceira Schultz.

Mais informações em: turismo.to.gov.br

Texto por: Patrícia Chemin. A jornalista viajou a convite da Schultz para o 5º Encontro Comercial Schultz.

Foto destaque por: Patrícia Chemin

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