logo

Telefone: (11) 3024-9500

Turismo no Pará agoniza por falta de saneamento básico e mesmo assim consegue apresentar práticas sustentáveis de ecoturismo | Qual Viagem Logo

Turismo no Pará agoniza por falta de saneamento básico e mesmo assim consegue apresentar práticas sustentáveis de ecoturismo

29 de julho de 2024

As mulheres são protagonistas nos exemplos que estão dando certo no estado do Pará

Faltando pouco mais de 15 meses para sediar a COP30, a cidade de Belém e os principais destinos turísticos do segundo maior estado brasileiro, o Pará, continuam vivendo um enorme dilema. Falta total de saneamento básico, estradas poucos sinalizadas, privatização do aeroporto que fez  – até o momento – os serviços piorarem, e o pior, total falta de apoio da Secretaria de Turismo do Estado com os empresários locais.

Os serviços da NOA são medíocres. Faltam funcionários, o ar-condicionado não funciona, nos banheiros faltam sabonetes e a limpeza é precária. As instalações são horríveis e a logística confusa. Ninguém se entende. Se um voo atrasa, a área de embarque se transforma num caos. O que o Diretor da NOA, o Sr Rodrigo Lima pode nos responder?

Viajei por 16 dias por algumas cidades; fui até Augusto Corrêa, visitei as praias de Salinas, caminhei por Marapanim, fui a Mosqueiro, revistei Crispim e Maruda, fui a Ilha do Algodoal, fui conhecer Santa Bárbara do Pará e alguns de seus balneários e pude perceber e concluir que, 25 anos depois da minha última visita ao estado, vi que o bairro de Umarizal passou por um enorme processo de verticalização, mas os problemas com esgoto a céu aberto quintuplicaram. Em Salinas, visitei várias praias e pude perceber evolução no comércio, novos hotéis, parque aquático de primeiro mundo, mas saneamento básico de terceiro mundo.

Fui a Mosqueiro e concluí que o Chapéu Virado se transformou num mar de esgoto e mal cheiro. A orla é pouco iluminada, e os dejetos de restaurantes e partes do comércio caem diretamente nas praias sem nenhum tratamento. Na cidade de Augusto Corrêa, perto do maravilhoso mercado municipal, convivemos com os cheiros das frutas e das farinhas, com os odores de merda. Sinceramente, é isso mesmo, merda!.

Em Marapanim, o esgoto corre pelas ruas principais; desisti de almoçar em dois restaurantes por pura falta de higiene. Até na Ilha do Algodoal, esgotos sem tratamento circulam por algumas ruas de terra, degradando a famosa Ilha da Princesa. Gente, pelo amor de Deus, param de brincar de governar. Olhem pra população carente, tratem o esgoto dessas cidades, que são circundadas pela maior floresta do mundo. Tive de fazer esse desabafo, pois minha decepção foi total. Não existe turismo de fato sem saúde, sem segurança e sem saneamento básico. Será que eu estou exagerando?

A partir de hoje, subirei diariamente matérias sobre a minha viagem em família para o Pará. Cada dia, trarei um assunto diverso. O início do meu roteiro foi por Belém, onde pude rever algumas das atrações importantes da capital do estado. Fui ao Museu Emílio Goeldi e percebi que ele se encontra em estado lastimável de conservação. Muitas áreas interditadas, recintos com quase nenhuma manutenção, sanitários sem sabonete e sem papel para higiênico e uma falta de vontade incrível dos funcionários da bilheteria em prestar um atendimento razoável ao visitante. Você vai observar por algumas fotos que tive oportunidade de registrar.

No local, existem muitos recintos com placas de interditado, mas sinceramente não vi mais do que cinco funcionários na operação dessas adequações. Os muros externos estão parcialmente quebrados e pichados, na entrada do parque, muitos ambulantes se amontoam junto aos turistas e visitantes deixando o espaço da calçada super limitado para circulação.

Não há o mínimo de organização e logística para entrar no recinto é muito ruim, com catracas velhas, enferrujadas e muitas quebradas. Mesmo assim, a experiência é razoável. Vimos dezenas de cotias andando pelas alamedas do local. Tucanos, Sabias, Pica-Pau e ararinhas rodeando o que resta de mata naquela região de Belém. Sinceramente, não sei de quem é a culpa, mas esse espaço, dedicado à cultura, pesquisa e preservação está agonizando, um descaso puro. Seria melhor fechar por um período e se dedicar integralmente a recuperação do espaço.

Outro local que merece destaque é o mercado Ver-o-Peso, que está passando por reforma, mas que não tem ordenamento logístico nenhum. Muita sujeira cerca o prédio histórico e centenário, tornando-o quase um lixo a céu aberto.

O Mangal das Garças é outro local interessante para conhecer um pouco mais sobre o ecossistema local e proporcionar uma interação entre o visitante e o Bioma local. Esse achei mais organizado, mas a limpeza também é insuficiente.

Aliás, quase que 85% das ruas que andei em Belém, nas áreas centrais, e nos bairros de Umarizal e Nazaré, tem esgoto escorrendo a céu aberto nas vias, e todos vão em direção a baía de Guajará Mirim.

Será que o governador do Estado e o prefeito de Belém vivem cercados por esgotos, ou são os próprios?! Isso além de ser um total falta de respeito com a população local, é um descaso com natureza que é abundante em todo o estado.

Percebi também algumas contradições. Há 26 anos fui a Salinas, fiquei impressionado com as belezas das praias, matas e vegetação, mas havia ficado horrorizado com o vai e vem dos carrões como Hilux, D20 e outros, andando em velocidades alucinantes pelas praias locais, colocando em risco famílias e crianças e poluindo as areias. Será que não existe uma maneira definitiva de proibir isso? Esse foi um questionamento meu a um turista local, que me disse que os carros em Salinas já fazem parte da cultura local. Ué, mas que cultura medíocre é essa? Vá ostentar no diabo que os carregue!

Já na majestosa Ilha do Algodoal, os bucólicos cavalos com charretes que tem nome de carros continuam circulando por toda a ilha, dando ainda aos cavalos trabalhos em demasia. Os coitados circulam das 6 da manhã até 23 horas, pra lá e pra cá, transportando em seus lombos turistas preguiçosos que não querem andar, nem caminhar até as suas pousadas. Aliás, pude ver também esgoto a céu aberto na Ilha de Algodoal e em Salinas. Será que o esgoto é também uma atração turística no Pará?

Aliás, a Secretaria de Turismo é comandada por um médico, que está dando medicamentos em dose homeopática para o turismo do estado do Pará. Esse tal Doutor, Eduardo Costa, nunca respondeu a e-mails e solicitações. A sua equipe está sempre pronta pra enrolar e nunca responder. A única pessoa que me ajudou, de fato, foi o técnico em Planejamento e Gestão em Turismo Allyson Neri que indicou alguns roteiros para que eu pudesse ao menos escrever sobre produtos turísticos construídos pelos pequenos e médios empresários, que estão criando um modelo de gestão turística adequado.

As mulheres, inclusive, são protagonistas dos produtos turísticos Paraenses e estão na direção certa. Podemos citar o trabalho de turismo rural e vivência na selva pela Fazenda Bacuri, o trabalho excelente que a Bióloga Fernanda Natália de Sá Freitas desenvolve na empresa de sua propriedade e de seu marido a Pará Birding Tour, que fica na cidade de Santa Bárbara do Pará, considerada o paraíso dos igarapés e que possui o Parque Gunma contando 540 hectares de floresta, quase que totalmente de mata primária, que preserva a biodiversidade para as atuais e futuras gerações.

Fernanda e seu marido, Daniel Aleixo, deixaram cargos importantes em multinacionais para desenvolver o programa de Birdwatching, onde recebem turistas do mundo todo para realizar a observação de mais de 300 espécies de pássaros, além de árvores centenárias em tours turísticos e científicos. É importante ressaltar que nunca os dirigentes de turismo do estado foram conhecer de perto esse trabalho maravilhoso ali realizado.

Foto por Pará Birding Tour

Lá eles também dirigem um hostel denominado Refúgio dos Naturalistas, onde recebem turistas do mundo todo para fotografias e pesquisa, além de tour turístico para iniciantes. Realmente, uma surpresa excelente.

Já na Ilha do Combu, vale realizar um passeio de dia inteiro com a empresa Vida Caboca, que nos mostra o turismo de base comunitária dando certo. Lá conhecemos a Casa de Chocolate comandada por Dona Nena. A empreendedora criou o chocolate Combu e mostra os processos de colheita, fermentação e secagem do produto.

Além disso os turistas participam de uma experiência gastronômica, tomando café, experimentando o melhor e mais original brigadeiro do mundo, além de uma caminhada na floresta onde podem observar árvores enormes, pés de cacau e açaí, e ver dezenas de pássaros e macacos.

Ela também mostra mais de uma dezena de produtos feitos com o chocolate nativo. Barras, licores, geleias e outras guloseimas, 100% naturais. Atualmente, ela emprega mais de 17 funcionários, que além de resgatar a autoestima ajuda a deixá-los em sua terra natal, não precisando migrar pras grandes cidades e ficarem sujeitas a subempregos.

Outro destaque especial desse roteiro é o Açaí Tuíra, que combina uma experiência de sustentabilidade, os saberes dos povos tradicionais e gastronomia, com destaque para o Açaí do Cumbu. O passeio começa com uma trilha ecológica conhecendo as palmeiras de açaí, a medicina da floresta, as técnicas ancestrais de cultivo, a colheita e extração da polpa, além das histórias e lendas associadas ao alimento sagrado do território amazônico.

O ápice desse roteiro é todo o processo do açaí, até chegar ao consumo, com o consumo do produto acompanhado de um menu degustação, que acompanha duas proteínas, arroz com jambu e a farinha; e culminando com um sorvete de açaí. Quem comanda todo esse roteiro é a guerreira Prazeres Quaresma dos Santos, uma mulher que nasceu na Ilha do Combu, nativa e teve sua família chegando ao local em 1914. Uma real história de vida e dedicação, preservando a floresta, cultivando açaí e promovendo o turismo sustentável de fato na região Norte.

Um dos maiores estados brasileiros em extensão territorial do Brasil é o Pará. Esse enorme e diverso estado da região Norte do Brasil tem ligação direta com a Floresta Amazônica. Isso porque a maior parte dos mais de 1,250 milhão km² do território paraense é coberto pela Amazônia. Segundo a OEA, 49% dos atrativos da floresta estão no solo do Pará.

São áreas de mata com trilhas, cachoeiras, diversas espécies de animais e plantas, muitos rios e ainda áreas de manguezal, de campos e até de cerrado, esses últimos em menor parte. Não à toa, o turismo é uma das principais atividades econômicas do estado, junto ao extrativismo mineral, vegetal (madeira), agropecuária e pecuária.

Além de toda a beleza natural da região, quem visita o Pará ainda pode conhecer a cultura e os costumes locais que misturam tradições indígenas com as trazidas pelos migrantes do Maranhão e imigrantes vindos de Portugal, Japão, Líbano e França.

O que tem pra conhecer perto de Belém

O Pará é o segundo maior estado brasileiro e o mais populoso da região Norte, com mais de 7,7 milhões de habitantes e 144 municípios. Faz divisa com Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e ainda os países do Suriname e Guiana e é cortado pelos rios Amazonas, Tapajós, Tocantins, Xingú, Jari e Pará. O nome do estado, inclusive, é uma homenagem ao Rio Pará que em tupi-guarani significa rio do tamanho do mar. Como se vê, não é só o estado que é grande em dimensões, os rios também tem essa proporção.

Como acontece em estados muito extensos, o desenvolvimento as vezes é desigual, por isso em 2011 foi proposto dividi-lo em três: Pará, Carajás e Tapajós, mas 66% da população não aprovou a mudança.

O clima do Pará é equatorial, com chuvas abundantes e temperatura média variando entre 24 e 33ºC. Por isso, dá para fazer turismo por lá o ano inteiro, mas vale ficar de olho na época das chuvas para não atrapalhar os passeios. O destino é cercado de belezas naturais, culinária envolvente e muitos cenários turísticos espetaculares.

Belém, a capital mágica do estado

A cidade de Belém é cosmopolita, agitada e oferece uma vida noturna bem intensa. Tem uma boa estrutura turística com diversos hotéis de vários preços e estilos, restaurantes, bares e casas de shows, que apresentam o famoso carimbó e as músicas bregas.

Além de vários pontos turísticos para os viajantes aproveitarem. Por isso, se você vai conhecer a Floresta Amazônica pelo Pará, conheça Belém. Tudo acontece por lá ao som do carimbó, uma dança de roda típica do estado e tocada em alguns estados do Norte e Nordeste. Além de ver o carimbó, você deve percorrer a cidade para ver as influências dos imigrantes europeus na arquitetura, costumes e, claro na gastronomia, que mistura receitas tradicionais desses imigrantes com ingredientes que só tem por lá.

Entre os pontos turísticos mais famosos de Belém estão o Mercado Ver-o-Peso, a Estação das Docas, que é um centro gastronômico da cidade, a Casa das Onze Janelas, o parque Emílio Goeldi onde fica o museu de mesmo nome, o parque Mangal das Garças, o Forte do Castelo de Belém, e algumas atrações especiais, como o passeio de barco oferecido pela Vale Verde, que sai pontualmente do porto da Estação das Docas e por uma hora e 40 minutos, rasga a baía de Guajará Mirim, mostrando cultura, músicas e danças típicas.

Outros destinos no Pará além de Belém

Para conhecer praias oceânicas desertas, ou somente mais tranquilas, vale visitar as cidades de Algodoal e Salinópolis. Já em Conceição do Araguaia, a praia é formada nas margens do Rio Araguaia, além de várias ilhas no leito do rio.

Para conhecer casarões históricos com forte influência da arquitetura portuguesa você deve passar por Bragança. Mas, se além dos casarões quiser uma experiência mais imersiva, vá visitar o projeto Ecológico e Sustentável da Fazenda Bacuri.

Localizada na cidade de Augusto Corrêa, a fazenda Bacuri é uma agroempresa familiar que tem como produto principal o Bacuri, onde este é proveniente de um sistema de manejo orgânico do Bacurizeiro – fruta típica amazônica. Os proprietários, liderados pela Hortênsia Osaque, desenvolveram um trabalho seríssimo de turismo rural com a produção associada, mostrando a bioeconomia da floresta em pé e em parceria com outros agricultores, pescadores, aquicultores, artesãos, salgadeiras, meios de hospedagem, restaurantes desenvolveram um roteiro rural denominado Rota Amazônica Atlântica.

Na fazenda Bacuri você pode fazer também fazer o programa de Micoturismo, além de participar de experiências gastronômicas, entender o que é o turismo responsável e ainda ser brindado com um banho refrescante no igarapé repleto de peixinhos e água gelada, ideal para se refrescar do intenso calor.

O Pará não é apenas grande em extensão territorial, mas o turismo no estado possui diversos atrativos e uma lista sem fim de opções de lazer ligadas à natureza e, principalmente, a Floresta Amazônica. É aqui no Brasil, mas para quem vive, sobretudo, nas regiões Sul e Sudeste é como se fosse outro país.

Vamos ver esse e outros exemplos de turismo que dá certo no Pará nas próximas matérias.

Mais informações

www.vidacabocaturismo.com.br –   passeio pela Ilha do Combu

www.valeverdeturismo.com.br  passeio de barco pela baía de Guajará Mirim

@fazendabacuribio – Micoturismo e experiência com o Bacuri

@filhadocombu – tour de chocolates

@combu_da_amazonia @saldosamaloca

Texto e fotos por: Cláudio Lacerda Oliva

Comentários