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Como Holambra, no interior de São Paulo, entrou no circuito mundial das flores

24 de novembro de 2017

Hoje considerada a capital brasileira das flores, a cidade de Holambra (134 km de São Paulo) era uma imensa fazenda de imigrantes holandeses até meados dos anos 1980, quando o crescimento dos habitantes e da estrutura urbana deu início aos primeiros movimentos de emancipação de Jaguariúna.

Até então, mesmo sendo uma das principais floriculturas de São Paulo a céu aberto, era ainda desconhecida não apenas pelos consumidores de flores da metrópole, como pelos roteiros turísticos do interior paulista. De lá pra cá, no entanto, foi se tornando um dos municípios mais visitados do estado por casais, excursões e turistas casuais de finais de semana.

Foto por IStock/ undefined undefined

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Segundo dados da prefeitura, até 2007 o número de visitantes na cidade era muito pequeno, apesar da já conhecida exposição anual de flores e da declaração de Holambra como estância turística pela Embratur uma década antes. Daquele ano em diante, porém, ela explodiu como destino turístico: dos cerca de 1.600 visitantes no primeiro semestre de 2005, o município registrou 47 mil seis anos depois.

Isso sem contar o número de participantes da Exploflora, quando os turistas se aglomeram pelas praças e ruas da cidade. No ano passado, por exemplo, estima-se que cerca de 320 mil pessoas foram à Holambra durante o evento, que é organizado a cada setembro pelos produtores.

A relação de Holambra com as flores se explica em duas datas: a primeira é o ano de 1948, quando o governo holandês encontrou no Brasil um lugar considerado apropriado para enviar remessas de agricultores que haviam perdido suas terras e posses durante a Segunda Guerra Mundial. Como os outros países do projeto não viam com bons olhos a chegada de colonos católicos – casos do Canadá e da Austrália -, foi para o território brasileiro que se destinou a maior parte desses camponeses. Para organizar a viagem e a recepção, o país europeu designou a Associação dos Lavradores e Horticultores Católicos da Holanda (KNBTB) para trabalhar ao lado do Brasil, à época governado pelo general Eurico Gaspar Dutra.

Foto por IStock/ thiagohneves

Foto por IStock/ thiagohneves

Já em território brasileiro, os holandeses se estabeleceram em uma fazenda chamada Ribeirão, de cerca de cinco mil hectares, comprada pelo governo da Holanda. Lá, eles inauguraram a Cooperativa Agropecuária de Holambra, nome baseado nas iniciais dos nomes Holanda, América e Brasil. “Os imigrantes depositavam seus valores na conta da cooperativa para uso conjunto de seus associados. O governo holandês enviaria gado, máquinas e outros materiais necessários. Para os imigrantes seriam encontrados tempos difíceis, matas densas de vegetação nativa tipo cerrado fechado, para desmatar”, conta a jornalista Ivonne de Wit, que foi diretora de turismo do município em 2014.

Segundo relatos, a primeira grande dificuldade dos holandeses radicados no Brasil foi a adaptação do gado trazido do país europeu, que contraiu doenças na viagem de navio ou não foram vacinados corretamente. Como era com os animais que os agricultores esperavam iniciar a vida no novo país, construindo uma fábrica de laticínios, muitos retornaram à Europa ou foram para outras regiões do sul, como em Castro, no Paraná.

Foto por IStock/ renatalang

Foto por IStock/ renatalang

Os que ficaram resolveram apostar em um mercado que a Holanda já dominava a nível mundial: as flores. Foi o caso do avô do engenheiro agrônomo Arien Van Vliet, que chegou na primeira leva de imigrantes à região, em 1940, para criar gado. Como o negócio não prosperou, ele resolveu cultivar gérberas. Deu tão certo que Arien é a terceira geração da família que vive do comércio de flores: “Não penso em fazer outra coisa”, conta. Hoje, a fazenda dos Van Vliet cultiva cerca de 18 mil vasos de flores por mês e é uma das presenças certas das exposições anuais.

A segunda data é o ano de 1981, quando os membros da Cooperativa Agropecuária Holambra resolveram criar um evento para mostrar aos visitantes da região as técnicas de arranjos florais, o cultivo das flores com tecnologia holandesa e o paisagismo característico do país europeu. Organizada nas instalações da própria cooperativa, ela reuniu cerca de 12 mil visitantes – um sucesso para a época.

No começo dos anos 1990, já relativamente famosa em São Paulo, a festa chegou ao país por meio de uma intensa campanha publicitária com o slogan “Uma festa tipicamente holandesa”, que conseguiu juntar 150 mil pessoas. De lá pra cá, a tendência turística de Holambra só aumentou, sempre concentrada no mercado das floriculturas.

Foto por IStock/ jaboticaba

Foto por IStock/ jaboticaba

Em 1998, a Embratur declarou que a cidade é uma estância turística, o que garante uma série de dispositivos legais para incentivos à arena turística, e, em 2009, por meio de um projeto do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a cidade investiu recursos estatais para fortalecer a marca da exposição, que é inspirada na FloraHolland, organizada anualmente em Amsterdam – a capital mundial das flores.

No ano passado, a festa custou R$ 4,3 milhões ao cofres dos organizadores e durou 17 dias, com eventos culturais, apresentações musicais, encenações e a famosa chuva de pétalas de rosas jogadas por um helicóptero. Além dos expositores de flores, a Expoflora ainda tem produtores de chocolates, enfeites de decoração e de alimentos da região. “Pedi a minha namorada em casamento durante o momento das pétalas. Muita gente faz isso. É até engraçado, porque eu estava pedindo e, depois de passado o momento, vi que tinha muita gente fazendo isso ao meu lado”, relata o administrador Thiago Ladeira, de São Paulo.

Capital das flores

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a produção de flores do estado de São Paulo se concentra em 20 cidades: além de Holambra, outros centros importantes do setor são Campinas e Atibaia, que, juntos, correspondem a 60% da produção brasileira.

Foto por Miguel Schincariol

Foto por Miguel Schincariol

São Paulo também é o estado que mais consome flores no país: 40% de tudo o que é produzido a nível nacional é utilizado em território paulista – e só a capital é responsável por 25% desse volume. No mercado internacional, os Estados Unidos são os principais compradores.

De acordo com o sindicato dos floricultores de São Paulo (Sindiflores), anualmente, o país inteiro colhe 285 milhões de hastes de flor por ano, movimentando grandes remessas de dinheiro. Dados da Hórtica Consultoria mostram que o mercado de flores e plantas ornamentais mobilizou um total de R$ 6,5 bilhões no ano passado no país – um crescimento de 6% em relação a 2015. “É um desempenho econômico favorável a despeito do contexto de crise financeira que atinge o país”, diz o Sindiflores

As flores cortadas no Brasil representam 29% do mercado mundial, o que coloca o país como um player importante do setor no capitalismo internacional. Só em relação às rosas – uma das flores mais produzidas e vendidas em território nacional –, a produção brasileira é responsável por 30% de todo o comércio global.

Foto por Miguel Schincariol

Foto por Miguel Schincariol

De acordo com estatísticas do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibrafor), no caso de São Paulo, 67% de tudo o que o Brasil exporta sai do estado. A produção de flores paulista envolve cerca de cinco mil pessoas, incluindo desde pequenos empresários até profissionais especializados da área. Desses números, Holambra aparece frequentemente nas primeiras posições, o que permite à cidade ser reconhecida como a capital brasileira das flores.

Turismo

Para além das flores, as atrações turísticas de Holambra remetem sempre à herança holandesa da cidade, como o Moinho Povos Unidos, uma cópia fiel do tradicional equipamento eólico europeu, e o Museu Histórico e Nacional, onde toda a história da cidade é contada por meio de fotos e relatos dos primeiros colonos da região e representações das máquinas e das casas construídas nos anos 1940. As agências turísticas mais recentes estão apontando também em tours de bicicleta – um dos transportes símbolos de Amsterdam – e roteiros pelas criações de flores da região.

Foto por Miguel Schincariol

Foto por Miguel Schincariol

A prefeitura também investiu há alguns anos em outros atrativos turísticos, como o portal de entrada da cidade, que foi construído nos mesmos moldes dos holandeses, o Lago Vitória Régia, dentro de um grande parque público, e as várias praças da cidade, todas reformadas para receber os turistas. “Para quem não quer visitar Holambra durante a exposição de flores, ir à cidade fora de temporada é uma ótima opção: é bem mais vazio, aconchegante e acolhedor”, completa Ladeira.

Texto por: Agência com edição Eliria Buso

Foto destaque por Henrique Branco

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