logo

Telefone: (11) 3024-9500

Argentina e Chile: embarque em uma road trip de 57 dias com muita aventura e esportes | Qual Viagem Logo

Argentina e Chile: embarque em uma road trip de 57 dias com muita aventura e esportes

30 de julho de 2019

O casal João Pedro Simonsen e Renata Martin caiu na estrada para explorar as paisagens andinas com um carro cheio de brinquedos” – como eles chamam seus equipamentos esportivos – e nos contam, nesse relato divertido e cheio de adrenalina, como foi essa experiência ao longo dos 16 mil quilômetros percorridos! Confira:

Partimos de São Paulo no dia 17 de dezembro e dia 21 entramos na Argentina. Nosso roteiro incluia a Laguna Mar Chiquita, La Cumbre e Fa­matina antes de cruzarmos os Andes.

A primeira parada foi Miramar, a beira da Laguna Mar Chiquita, que é a maior Lagoa da Argentina e quinta maior do mundo de água salgada. O lugar é conhecido pelas boas condições de vento, mas como não havia, por ser fora da temporada, sacamos o stand up e fomos para água.

Próxima parada foi La Cumbre, onde fica o Aeroa­telier, a “Universidade de Voo” criada por Andy Hedi­ger, uma lenda dos esportes aéreos! O lugar é um so­nho para quem é do ramo, com hangares com mais brinquedos que meu porta-malas e um restaurante cheio de bossa com um bife de chorizo especial! Fo­mos recebidos pelo próprio Andy, que também esta­va recepcionando o Paul Guschbauer, um atleta da Red Bull, que estava terminando uma viagem de mo­nomotor que começou no Alaska. Fechei o dia com uma sessão de Kite Skate no pôr do sol.la-cumbre3

No dia seguinte, começaram os voos. Fomos direto para Cuchi Corral, uma decolagem na borda do pla­nalto em condições muito diferentes do Brasil. Tudo muito seco e com muitos espinhos. Voei de Parapen­te por cerca de duas horas e pousei no Aeroatelier.

No outro dia, fui tentar achar uma decolagem das antenas no alto da montanha em La Cumbre mesmo.

O acesso foi difícil, as condições complicadas e quase não decolei. Por fim, achei um lugar seguro longe dos fios de alta tensão e do rotor do morro da frente. Outro bom voo e pouso no Aeroatelier. Dormimos na margem do Rio Pintos que fica próximo. O tercei­ro dia foi de prosa e aprendizado com o “Airman” e voo de despedida.

Destino seguinte: Famatina. A mágica está lá!famatina-argentina-jpr

Uma cidade bem pequena com clima árido. Lá, en­contramos com Marcelo Sanchez, um personagem muito divertido. Ele me recomendou decolar de para­pente pela manhã por volta das 9h, porque a ativida­de térmica começa muito cedo e na hora do almoço fica forte demais. Às 9h estava na rampa e o voo de parapente foi ótimo. Fiquei com vontade de voar de asa delta! Também por recomendação dele e por ter percebido no voo de parapente que a chaleira apita forte na hora do almoço, decolei com a asa às 18h.

Você consegue imaginar o que é ficar voando ao lado de um condor que fica olhando nos seus olhos? O voo foi inesquecível, um dos mais impressionantes que já fiz! Pousei com o sol se pondo às 21h e com um sorriso que demorou a sair.

Seguindo viagem, passamos por Jáchal em direção a Las Flores para tentar uma parada em Rodeo, um pico muito famoso para o kitesurf. Chegando em Ro­deo, o vento passava de 50 nós, conclusão: o velejo aqui ficou para uma próxima vez.paso-agua-negra-andes-jpr

O Paso Agua Negra que escolhemos para atraves­sar os Andes para o Chile chega a 4780 m de altitude, não tem pavimento e é um dos passos mais altos dos Andes. Tem vários trechos onde só passa um carro e o despenhadeiro tem mais de 300 m de altura, sem exagero! Nossa sorte foi ter pego tempo aberto. Ape­sar de tensa, é linda!

Ainda no passo, mas do lado chileno, fomos sur­preendidos por uma represa a 3.150 m de altitude. O stand up foi pra água de novo. Fui primeiro para ver se era seguro e depois foi a vez da Renata, fizemos um downwind especial da barragem para dentro das montanhas. Com sorriso no rosto, seguimos em fren­te. Próxima parada: Puclaro.

O lugar é uma represa famosa pelos ventos fortes toda voltada para os esportes de vento, como kite e windsurfe. Passamos a virada do ano lá. O dia co­meça sem vento, que vai entrando aos poucos. Na hora do almoço, já estava bom para o kitesurf e eu na água. Foi uma sessão boa, e o vento só aumentou…la-serena-chile-jpr

Partiu La Serena. Uma cidade praiana de médio porte, sem picos de surf famosos e com a água ge­lada. Acabei descobrindo uma rampa de voo, Cerro Grande, na borda da cidade. Para quem achou que depois de Jáchal e Agua Negra já tinha passado pelo mais difícil em matéria de estradas, ganhamos uma subida mais apertada e bem na borda do penhasco! Eu ainda me dei bem porque desci voando, a Renata teve que descer dirigindo o carro. O voo foi divertido pelo visual das antenas e da cidade embaixo.

Fizemos uma parada em Maintencillo, na rampa o Ninho das Águias, na beira do mar. O voo é bem liso e tranquilo, ótimo para iniciantes. O pessoal na rampa foi muito simpático e o voo, colorido.maintencillo

Por meio de um amigo piloto do Brasil, entrei em contato com um brasileiro que mora em Santiago. Ele me colocou no grupo local de pilotos. Logo de cara fui pra Vizcachas, rampa conhecida pela intensidade das térmicas e pela turbulência. Decolei primeiro de parapente pra sentir as condições. Térmicas fortes e apertadas e ainda tesoura de vento nas camadas de inversão. Voei cerca de uma hora e subi novamente para decolar de asa. A Renata fez a função de resgate e filmagem. Com a parte da filmagem ela tem se di­vertido bastante, já as descidas na beira de penhascos têm sido um desafio que ela supera com coragem, mas às vezes chega embaixo um pouco pálida. No dia seguinte, fomos para Batuco, rampa que fica do outro lado da cidade com um pouso espaçoso. O voo foi mais longo e técnico. Aproveitei bem!

Dia de pegar as crianças no aeroporto; meus filhos Ana e Pedro e a Carmen filha da Renata. De lá, parti­mos para o litoral. Pichilemu foi o destino.pichilemu-chile-jpr

O que faz esse tipo de viagem ser especial são os momentos únicos, o convívio, as descobertas e lidar com as surpresas boas e outras nem tanto, mas se­guir aprendendo e tirando o melhor do que a jorna­da oferece.

Coisas como remar numa lagoa no alto dos Andes, dormir na beira do rio com uma orquestra de cigar­ras, ter o pneu furado três vezes, conhecer pessoas únicas, voar com um condor e por aí vai, enriquecem toda a experiência. No aeroporto de Santiago tive­mos o vidro do nosso carro quebrado e com ele se fo­ram todos nossos equipamentos de filmagem, rádios de comunicação para voo e a bolsa da Renata com

nossos documentos. Belo teste pra quem acaba de receber os filhos para férias de 15 dias e também es­tava documentando cada detalhe da nossa aventura. Na hora, apesar da chateação, entendemos que per­rengues como esse acontecem e tratamos de partir pra parte prática, arrumando o vidro do carro, regis­trando queixa na delegacia e solicitando documentos novos. Quatro horas depois estávamos na estrada.

Pichilemu é uma das cidades mais famosas do Chile quando o assunto é surf. É lá que fica Punta Lobos, pico de ondas grandes conhecido mundialmente. A previsão de swell se confirmou e surfamos em Punta Lobos, meu filho Pedro e eu. A água do mar em toda costa do Chile é um bocado fria por conta da Corrente de Humbolt, que traz a água gelada lá da Antártida.

Em Pichilemu estava em torno de 16 graus. Eu já estava preparado porque estive nesse lugar há cerca de 15 anos, então roupa de borracha 4 mm, bota, luvas e gorro para o Pedro já estavam na caçamba. Cair no mar com água muito fria, com algas gigantes na beira da água e entrar no mar pulando das pedras direto no pico já é uma experiência e tanto, que dirá pra um garoto de 15 anos acostumado com a tran­quilidade da água quente e areia da praia. Pegamos várias ondas e foi memorável!

No dia seguinte tinha mais onda ainda e nosso sor­riso era proporcional ao cansaço e ao frio. As meni­nas, incluindo a Renata, só botaram o dedinho na água. Aproveitamos ao máximo cada um dos dias, com direito a carteado depois da pizza com sorvete do Bravus, nosso restaurante preferido na cidade.buchupureo

Próxima parada programada foi Buchupureo. Pico de ondas incríveis que contava com uma previsão boa, mas que tinha menos onda que a Lagoa Mar Chiqui­ta. O jeito foi dar uma turistada e seguir viagem.

Chegando em Pucón, fomos presenteados com um visual impar: um lindo lago natural emoldurado por um vulcão ativo e majestoso. Pucón é a capital de esportes outdoor do Chile. Não precisa falar que nos sentimos em casa!

Dia seguinte lá estávamos nós cinco às 6h da ma­nhã aos pés do vulcão Villarica. Nem imaginávamos o tamanho da encrenca! Foram 5 horas de subida das quais 4 horas na neve com grampos nas botas. Minha filha Ana e a Renata sofreram com o peso do equipamento e decidiram voltar no meio do cami­nho. Seguimos o Pedro, a Carmen e eu até o cume. Experiência incrível! Descemos com o alento do ski­bunda que fez com que a subida de 5 horas virasse uma descida de 2 horas sem muito esforço.pucon2

Todos reunidos, partimos pra comemorar com o melhor bife de chorizo de toda viagem! Depois cama, para ter disposição para o rafting na manhã seguinte. Aqui nós 5 participamos. O rafting foi divertido e o rio

Trankura é lindo! Com apenas mais um dia na cidade, fizemos uma cavalgada e um mergulho na cachoeira Salto Claro, água fresquinha a 8 graus de temperatura!

A turma gostou tanto de Pichilemu que decidimos voltar por lá. Para os últimos dias das crianças com a gente, decidimos coroar a experiência. Para isso nos hospedamos na cara do gol, no hotel mais legal de toda costa do Chile, o Hotel Alaia, com direito a acordar olhando as ondas, ofurô depois do surf, pista de skate e restaurante com comida de autor. Incrível! Dalí partimos para Santiago, onde eles re­tornaram ao Brasil.

Sozinhos novamente, do aeroporto seguimos rumo a Iquique. No caminho, fizemos uma parada em Caleta de Hornos, pois vimos uns parapentes voando nas dunas a beira mar. Fiz um voozinho de lift e seguimos viagem.iquique-chile-jpr

O pessoal em Iquique diz que lá é a capital mundial do parapente. Não sei ao certo, mas que o lugar é muito bom pra voar, ah isso é! Uma cidade espremi­da entre o mar, a duna e a montanha, que tem boas condições de voo o ano todo. Fiz 3 bons voos de parapente pousando na praia que valeram a parada.

De lá, fomos para San Pedro de Atacama, nossa última parada no Chile. A cidade é um charme e ro­deada por uma natureza de deixar qualquer um bo­quiaberto. Descobrimos que fomos na única época que chove no deserto. Por sorte, conseguimos apro­veitar. Nadamos na Lagoa Cejar, que tem água tão salgada que boiamos como no Mar Morto, visitamos o Vale da Lua e a Lagoa Chaxar, onde param os fla­mingos. O tempo piorou muito, com neve e chuva nas montanhas, o que fez com que tivéssemos que desistir da ida para o Salar do Uyuni na Bolívia, pois os dois passos para lá foram bloqueados por nevas­cas e deslizamentos. O jeito foi sair pelo Paso Jama para a Argentina o quanto antes. Dois dias depois que saímos, houveram inundações e estradas destruí­das. Demos sorte!paso-jama-andes-jpr

Chegamos à Argentina pela cidade de Jujuy e de lá seguimos para Salta, onde apenas fizemos uma parada. A estrada de Salta para Cafayate passa por uma serra repleta de formações impressionantes e paisagens distintas umas das outras, a Quebrada das Conchas. Cafayate é uma cidade cercada de vinícolas e muito charmosa onde resolvemos ficar por uma noite.

Decidimos voltar por La Cumbre, lugar que adora­mos e onde deixei pendente um voo de planador.

No caminho, uma parada no Dique Del Eje para uma sessão de kitesurf no cair da tarde. Vento forte, água lisa e muita diversão.dique-del-eje-argentina-jpr

Já em La Cumbre, combinei o voo de planador com o Andy para o dia seguinte. Decolamos ao meio dia e as condições estavam ótimas! Voamos por 2 horas e percorremos 240 quilômetros. Experiência espetacular!

Pilotei a maior parte do tempo, um pouco ressa­biado no começo com o nível de exigência do meu “instrutor”. No último dia, fizemos uma cavalgada pela manhã, voei de parapente na hora do almoço e começamos o nosso retorno.

Na volta, mais uma parada em Miramar. Como diz o meu amigo Fabinho Voo Duplo: “Só voa quem tá na rampa”, e desta vez vento entrou e rolou aquele velejo de kitefoil. Felizes, tocamos em frente.

A partir daí foram dias de muita estrada até chegar a Foz do Iguaçu e depois mais estrada até São Paulo. Foram 57 dias com poucos percalços e muito sorriso no rosto, como vocês puderam ler!

Viajar descobrindo lugares e praticando esportes as­sim com a natureza é uma experiência que dá oportu­nidade de um relacionamento mais profundo com os lugares e as pessoas que você encontra pelo caminho.

Viagem longa, 16 mil quilômetros! As muitas horas no carro às vezes cansam…Vamos de novo? Sim!

Texto e fotos por: Pedro Simonsen e Renata Martin.

Comentários