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Turismo religioso no Brasil: experiência de fé, acolhimento e desafios para avançar

10 de junho de 2025

O Turismo Religioso no Brasil é uma das expressões mais intensas da fé popular e movimenta milhões de pessoas todos os anos. Em 2016, uma pesquisa independente realizada pelo jornalista Amadeu Castanho e pelo especialista Sidnésio Moura estimou que cerca de 35 milhões de brasileiros praticavam turismo religioso em 15 destinos analisados, número que superava os dados oficiais do Ministério do Turismo de 2015, que falavam em 17,7 milhões de viajantes e R$ 15 bilhões em impacto econômico.

Esses números já eram impressionantes há quase uma década. Mas hoje, mais importante que números, é compreender o que está por trás deles. O Brasil tem um enorme potencial nesse segmento, mas a grande maioria dos destinos ainda não está preparada — nem com o entendimento espiritual do TR por parte dos Guias de Turismo, agências de Turismo e Operadoras (existem poucas agências de turismo e Operadoras no Brasil possuem o conhecimento do TR), nem estruturalmente — para receber os romeiros e peregrinos.

Apesar do potencial, o avanço do setor esbarra em dificuldades estruturais e de gestão. Muitos destinos carecem de infraestrutura adequada, roteiros integrados e profissionais capacitados. A falta de políticas públicas voltadas ao Turismo Religioso, aliada à ausência de uma verdadeira governança turística, compromete o desenvolvimento sustentável do segmento. Lideranças religiosas, públicas e privadas, muitas vezes, não compreendem o conceito de Turismo Religioso como uma experiência espiritual e transformadora, reduzindo-o a visitas a igrejas ou museus sacros.

Hoje, os principais destinos desse segmento incluem Aparecida (SP), Trindade (GO), Juazeiro do Norte (CE), Nova Trento (SC), Belém (PA) e Canindé (CE), além de festas religiosas como o Círio de Nazaré e a Romaria de Nossa Senhora Aparecida. O Catolicismo é a religião mais consolidada no segmento, mas o Brasil apresenta potencial em outras tradições, como as afro-brasileiras (Ilê Axé e terreiros da Bahia), evangélicas (Turismo Gospel) e espiritualistas.

Para Sidnésio Moura, especialista reconhecido nacionalmente no setor, os números devem ser consequência de um bom acolhimento ao sagrado: “É preciso cuidar dos templos, igrejas e santuários, e preparar as lideranças. O Turismo Religioso é um encontro com Deus. Sua essência está na fé do romeiro, do peregrino, do devoto.”

Mais do que dados e gráficos, o Turismo Religioso é fé em movimento — e exige planejamento, cuidado com o sagrado e escuta profunda das lideranças espirituais. O Brasil tem potencial. Falta, agora, união e profissionalismo para que ele floresça.

Entre os caminhos para a profissionalização e avanço, destacam-se a adoção de Destinos Turísticos Inteligentes (DTIs), integração com a economia criativa, investimento em tecnologia e sinalização autoguiada, fortalecimento da hospitalidade com espiritualidade, e a valorização da cultura devocional de cada território.

Para profissionalizar é necessário fortalecer as parcerias com o Sistema S, especialmente SEBRAE e SENAC, e com as universidades que podem ajudar a criar soluções para a profissionalização seja do destino enquanto gestão pública, ou dá própria Instituição Religiosa, como atrativo turístico legítimo e respeitoso.

Turismo religioso não é turismo convencional. Ele não é motivado por lazer ou paisagem, mas por fé, devoção, promessa, experiência interior. E, por isso, precisa ser pensado com mais profundidade. Exige zelo, formação, roteirização adequada, guias capacitados, uma infraestrutura de acolhimento respeitosa — que compreenda o espaço sagrado como lugar de encontro com Deus.

O mais impressionante é que esse é um turismo que acontece o ano inteiro. Ele não depende da sazonalidade, do verão, das férias, da alta temporada. Ele está no calendário da fé. E, mesmo assim, ainda esbarra em obstáculos antigos: ausência de políticas públicas, desconhecimento técnico e falta de integração entre as lideranças religiosas e o poder público.

No Brasil, tem se falado atualmente muito no Turismo Religioso — e muitas vezes de forma equivocada — sobre o que realmente é o turismo religioso. Muitos pensam que se trata apenas de visitar uma igreja bonita, um museu de arte sacra ou uma gruta famosa. Mas o turismo religioso é, acima de tudo, uma vivência espiritual. É uma forma de fé que se transforma em deslocamento, em busca, em encontro com o sagrado.

Nosso representante tem visitado destinos com potencial imenso, com festas religiosas centenárias, devoções populares riquíssimas, paisagens sagradas, igrejas históricas, mas que não conseguem atrair o fluxo esperado por um simples motivo: falta entendimento, preparo e planejamento. Há construções de espaços religiosos sendo feitas sem qualquer diálogo com as lideranças de fé locais. Há romarias sendo realizadas com ônibus sem segurança, sem guia de turismo, sem rota pensada. Há atrativos abandonados por não se entender o que é acolher espiritualmente.

Muitos destinos brasileiros — com grande vocação religiosa — ainda não conseguiram transformar essa vocação em atratividade. Faltam roteiros integrados. Falta conexão com a economia criativa. Falta digitalização. Falta inclusão social. Falta acolhida profissional.

E o problema é que muitos que tentam implantar o turismo religioso não vivem a religiosidade — e acabam tratando essa experiência como produto, sem alma, com o foco apenas no lucro e atrair a demanda turística para o destino. Isso tem travado o crescimento de muitos roteiros, afastado o peregrino, e desvalorizado a força da espiritualidade que move milhões de brasileiros.

Neste contexto, uma iniciativa que se destaca é o FNDETUR – Fórum Nacional de Turismo Religioso, considerado o principal evento do segmento no país. Em sua 7ª edição, será realizado em novembro, em Trindade/GO, reunindo especialistas, gestores, agentes de viagem e lideranças religiosas para debater o Turismo Religioso no Brasil.

O turismo religioso é uma ponte entre fé, cultura, economia e pertencimento. Não é só uma visita — é uma jornada interior. E essa jornada merece ser cuidada, planejada e, acima de tudo, compreendida com a alma.

Texto por: Agência com edição

Foto destaque por: Priscila Rodrigues

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