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África do Sul: muito além das cores, sons e perfumes

17 de agosto de 2018

A África do Sul tem nos safáris o seu principal pos­tal. Mas o país é muito mais do que isso. Abriga paisagens cinematográficas, bucólicos vilarejos e borbulhantes centros urbanos por onde se espalham e convivem diferentes etnias. É ainda a terra de Nelson Mandela, líder atuante na luta contra o apartheid, a política de segregação racial imposta pelos sucessivos governos de minoria branca que imperou no país no período de 1948 a 1994. Passado e presente se mis­turam neste intrigante território, um lugar mágico que se traduz em sons, cores, formas, aromas e sabores… Em belezas que a gente nunca esquece.

Abraçada pelo azul dos oceanos Atlântico e Índico, a África do Sul é um mercado emergente. A renda média da população é considerada alta pelo Banco Mundial. Sua economia ocupa um dos primeiros lugares no ran­king dos top 10 do Continente Africano. É ainda uma das maiores produtoras de ouro, diamantes e miné­rios do mundo. E seus vinhos, de excelente qualidade, são conceituados internacionalmente. Legal também é saber que o país sul-africano é bastante acessível eco­nomicamente aos turistas, incluindo os brasileiros. O rand (R) é a sua moeda oficial. Vale R$ 0,25 do real. Portanto, R$ 1 = 4R. Então, dá para imaginar que é possível viver dias de sonho neste solo. E é mesmo!

Foto por istock/ gustavofrazao

Foto por istock/ gustavofrazao

Antes de viajar, porém, é melhor aprender mais so­bre a África do Sul. O país tem onze idiomas oficiais, entre eles o zulu e o xhosa, o africâner e o inglês. Essas duas dessas últimas são de origem europeia. O africâner se originou a partir do neerlandês e é fala­da pela maioria dos brancos e mestiços do país. Já o inglês é a língua usada na vida pública e comercial, mas é apenas o quinto idioma praticado em casa – normalmente, os sul-africanos adotam a língua na­tiva nas conversas com a família. Como é falado pela maioria da população, você terá de ter ao menos o inglês intermediário se quiser conhecer e sobreviver lá. Ou então, levar um aplicativo tradutor na bagagem.

Colonizado por diferentes países europeus e, so­bretudo, pela Inglaterra, o país acolheu ainda mi­lhares de imigrantes indianos. Mahatma Gandhi (1869/1948), por exemplo, morou lá – em Durban, é possível conhecer a casa onde ele viveu em 1891, antes de voltar à Índia. Em 1897, o líder pacifista re­gressou a África do Sul, onde permaneceu até 1914. Nos anos que viveu no país, Gandhi, com sua filoso­fia pacífica baseada no uso da não violência, se po­sicionou contra o apartheid, mas liderou, sobretudo, a luta em defesa dos direitos da minoria hindu que vivia no território sul-africano.

Os traços dos imigrantes são visíveis na África do Sul. E eles surgem na gastronomia e também são encon­trados em meios de transporte. Caso dos trens e das estradas de ferro que interligam as cidades sul-afri­canas, herança deixada pelos ingleses, assim como o volante do motorista disposto à direita do carro e do ônibus. Há, ainda, o hábito de tomar chá, outra tra­dição herdada dos britânicos. Misto de modernidade, desenvolvimento econômico e contradições sociais, a África do Sul é, exatamente por esses motivos e por muitos outros, um fascinante pedacinho do planeta que merece mesmo ser conhecido.

Safáris em Cabo Oriental

Foto por Istock/ MariusLtu

Foto por Istock/ MariusLtu

Impossível não se enternecer ao fazer um safári na África do Sul. A aventura atrai turistas do mundo todo e é o maior motivo de o país ser visitado. Não à toa. O passeio é feito geralmente em land-rover ou em veículo semiaberto e intercala savanas, planícies, rios, lagos… E o mais bacana: dá direito a estar bem perto de uma abundância e variedade surreais de aves, rép­teis e mamíferos, alguns em extinção. No país de Nel­son Mandela não faltam endereços onde você pode se hospedar e vivenciar essa inesquecível experiência.

Com 7.500 hectares, a Reserva de Caça de Amakhala é um deles. Está localizada na região do Grande Addo e Frontier Country, na Província do Cabo Oriental, a 50 minutos de carro a nordeste do aeroporto interna­cional de Port Elizabeth. Pela sua amplitude, estão dis­tribuídas dez propriedades de três, quatro e cinco es­trelas. Pertencem à marca Amakhala e disponibilizam lodges para todos os gostos. Quer dormir em uma sofisticada e bem equipada cabana, em plena reserva?

Woodbury Lodge, um acampamento da marca, é uma opção. Com vista para o verde vale do Rio Bushmans, suas cabanas de diferentes tamanhos pos­sibilitam o contato direto com a natureza. Dormir em uma delas, sabendo que à noite animais selvagens rondam o lugar, é mágico. Prefere um quarto mais tradicional? O Safári Lodge, com suas suítes de pisci­nas privativas, é a alternativa. Independentemente da sua escolha, os dois empreendimentos oferecem sa­fáris diários (inclusos na hospedagem, assim como as refeições), um de manhã cedinho, e o outro à tarde.

A Reserva Amakhala, com o seu diversificado ecos­sistema, é o habitat de mais de 60 espécies de mamí­feros e centenas de aves, répteis e insetos. Eles têm trânsito livre em seu interior – o lugar apenas é demar­cado com cercas em suas fronteiras com a estrada, para impedir que os animais invadam a pista e se ma­chuquem. O passeio de mais de três horas em rotas pré-determinadas nesse imenso zoológico ao ar livre é acompanhado por um guia-motorista. É ele quem, durante o trajeto, localiza as diferentes espécies que ali vivem e dá explicações sobre a flora e fauna locais.

Foto por ISTOCK / PGGUTENBERGUKLTD

Foto por ISTOCK / PGGUTENBERGUKLTD

Embora os guias saibam exatamente quais animais e a quantidade deles que habita a reserva, ao fazer um safári, a gente nunca sabe o que vai encontrar, quando vai e se vai. O que pode ser bem excitante.

Ou, uma enorme frustração – nem sempre se encon­tra um leão, que é um dos animais que todo mundo quer ver. Como certeza, você só tem a garantia de que vai ver bichos. Mas, é bem improvável que não encontre girafas, zebras, impalas, gnus negros, javalis, búfalos e outras espécies pelo caminho, o que, por si só, significa momentos de absoluto encantamento.

A expedição off-road pela imensidão da Amakhala é mesmo surpreendente. Afinal, a reserva também é o lar dos Big Five, os cinco mamíferos selvagens de gran­de porte mais difíceis de serem caçados pelo homem: o leão, o elefante africano, o búfalo africano, o leopardo e o rinoceronte branco e negro. Quem sabe, se decidir embarcar em um safári, você seja brindado pelo en­contro com algum deles? É apostar na sorte e torcer!

Comidinhas e bebidinhas

Saindo da natureza intacta e indo direto para a mesa, entenda que a gastronomia do país reflete os seus tra­ços multiétnicos. É um mix de influências de etnias sul­-africanas, como os zulus (a maior delas), os xhosas (Mandela pertencia a esse clã) e os basothos (do Sul e do Norte), e dos imigrantes e descendentes que ali ainda vivem. E também dos povos que por lá somente passa­ram. Por isso, é bastante comum encontrar nos menus locais pratos com interferências dos portugueses, ho­landeses, ingleses, indianos, árabes… Mas, antes de ex­perimentar algum deles, é bom saber o que vai comer.

Na África do Sul, o tempero que se exibe em dez en­tre dez dos cardápios é o peri-peri (pimenta-pimen­ta, no idioma africano suaíli). Ele é usado em carnes, molhos e é bem forte e ardido. Por isso, se você não gosta da especiaria, fuja dos pratos temperados com ela. O Bobotie, por sua vez, é a maior vedete da culi­nária do país. Considerado o prato nacional da África do Sul e o que era o preferido de Mandela, é um bolo cozido de carne moída (normalmente feito com a de cordeiro), castanhas, cebola, pão, leite, damascos e passas. É acompanhado de arroz aromatizado com açafrão e sambal, um condimento feito com mala­gueta amassada com sal e vinagre e misturada a pe­pino, tomate, cebola e iogurte.

Foto ISTOCK/ BONCHAN

Foto ISTOCK/ BONCHAN

Como o Bobotie, muitos outros pratos da gastrono­mia sul-africana são preparados com carnes de caça, como a de cordeiro, avestruz e jacaré, só para citar algumas. Para acompanhar as carnes bovina e as de caça, a Chakalaka e o Pap. O primeiro é um tipo de molho apimentado e bem encorpado de vegetais, en­quanto o segundo é uma espécie de polenta, só que feita com farinha de milho. Sempre presentes à mesa sul-africana também estão os curries de carne (bovina ou de caça), frango e peixe. Prato típico indiano, são acompanhados de arroz tipo basmati e rotis, um pão com formato e massa semelhante ao da panqueca.

Para enganar a fome, o país sul-africano oferece pe­tiscos bem típicos: o Biltong e o Droëwors. Os dois snaks nada mais são do que pequenos pedaços de carne seca. Geralmente, o primeiro é feito com a bo­vina. Já o segundo, com a Dunwor, uma linguiça fina. Produzidos como nos tempos em ainda não existia a geladeira, as carnes usadas na confecção desses pe­tiscos são salgadas, temperadas e ficam curando por vários dias até ficarem bem sequinhas.

Os sul-africanos adoram doces. E eles se multiplicam nas mesas, incluindo nos cafés da manhã servidos nos restaurantes de hotéis. Entre as estrelas, destaque para os Koeksisters, uma espécie de bolinho de chuva que é passado em uma calda de açúcar e limão – algumas vezes, também é coberto com baunilha ou gengibre. É servido frito. Tão popular (e talvez até mais) que o bolinho é o Malva Pudding. Feito com geleia de da­masco e, às vezes, com açúcar mascavo, é um misto de bolo e pudim. É servido quente, acompanhado por sorvete ou creme de baunilha. Ou, por ambos.

Para tomar entre uma e outra e também após a refei­ção, nada melhor do que um chá. A tradição trazida pelos ingleses está presente em bares, lanchonetes, ca­sas de chá e restaurantes. A principal marca sul-africa­na é a Rooibos. De cor vermelha bem acentuada, o chá é forte e produzido com uma planta nativa. Por falar em bebidas, a África do Sul é a inventora do Amarula, um licor feito do fruto da maruleira (conhecida tam­bém como árvore dos elefantes, que adoram comer suas folhas), açúcar e creme. Com 17% de teor alcóo­lico, o licor começou a ser produzido em 1989 e tam­bém é empregado na confecção de alguns chocolates.

Foto por Istock/ ToscaWhi

Foto por Istock/ ToscaWhi

Ir embora do país sem degustar os vinhos sul-afri­canos é quase como cometer um pecado mortal. O conceituado importador mundial oferece versões da bebida de Bacco em imperdíveis cores, aromas e sa­bores, das mais suaves às mais encorpadas. O Vinho Pinotage é o mais famoso deles. É produzido com a uva pinotage, uma espécie que foi criada na África do Sul a partir do cruzamento das uvas do tipo Pinot Noir com a Cinsault, também conhecida como Her­mitage. Tão conceituado quanto o tinto são os bran­cos. Ostentando o título de “melhor vinho branco do mundo”, a bebida é feita com as uvas Chardonnay e Sauvignon Blanc. É experimentar e conferir!

Lição de história em Joanesburgo

Depois de chegar à vibrante metrópole, vá explorar essa que é maior cidade do país, mas não é a sua capital. A África do Sul não tem uma, mas sim três: Pretória (capital executiva e administrativa), Cidade do Cabo (legislativa) e Bloemfontein (judicial). Inclua em sua agenda o Soweto e o Museu do Apartheid. O Soweto é um bairro alegre e colorido, embora ainda concentre muitas famílias pobres – tem gente até que garante que o distrito é uma grande favela. A realida­de não é bem assim. Atualmente, muitas famílias da classe média alta e ricos moram lá. E, para elas, isso é motivo de muito orgulho. Por quê? A história.

Soweto é a abreviação de South-Western Townships. E thownships eram regiões na periferia das cidades onde os negros eram obrigados a viver durante o apar­theid. O distrito foi criado em 1963 para juntar sob uma mesma administração um conjunto de bairros para negros. Ficou conhecido por ser um foco de resis­tência antirracista e importante palco de protestos dos negros contra a política oficial de discriminação racial.

Foto por ISTOCK / HOMEH

Foto por ISTOCK / HOMEH

Há muitos anos, porém, o Soweto deixou de ser um reduto onde negros tinham suas casas incendiadas e destruídas por bombas molotov jogadas por policiais nos injustos tempos do regime, quando sequer po­diam andar livremente e muito menos ter uma casa nas áreas da cidade onde viviam os brancos. Hoje, o distrito situado a sudoeste de Joanesburgo preserva emblemáticos marcos históricos.

Conhecê-los vai te conduzir a uma viagem ao passa­do, fazendo você compreender melhor a turbulenta e ainda muito recente história do país. Foi numa rua deste dinâmico centro, mais precisamente na Vilaka­zi Street, que moraram dois vencedores do Prêmio Nobel da Paz: Mandela (1993) e o arcebispo angli­cano Desmond Tutu (1984). Aliás, a rua ainda abri­ga a casa onde Mandela viveu com a sua primeira e segunda esposas. Foi para ela também que ele quis voltar após ter ficado preso por 27 anos. Símbolo de resistência, o líder sul-africano foi uma das mais altas vozes que se levantou contra o apartheid.

Hoje, transformada em museu (mandelahouse.co.za), a casa guarda pouco de sua construção original – foi praticamente reconstruída após um incêndio. Mes­mo assim, em seu interior, você vai encontrar objetos pessoais de Mandela, fotos da família e o quarto onde dormia, por exemplo. Em frente à casa do icônico lí­der sul-africano, observe os animados grupos musicais que dançam embalados pelos os ritmos que eles mes­mos executam. Cena que deliciosamente vai se repetir muitas vezes durante a sua viagem.

Foto ISTOCK / RAPIDEYE

Foto ISTOCK / RAPIDEYE

Por toda extensão da Vilakazi Street e em suas imedia­ções espalham-se lojas e barraquinhas de artesanato, lanchonetes e restaurantes, além do Museu e Memorial Hector Pieterson. A melhor maneira para conhecer o lugar é contratar um tour guiado. Você também pode desvendar o bairro em um passeio de bike ou de tuk tuk (sowetobicycletours.com). Se preferir economizar tem­po e dinheiro, a opção é o City Sightseeing Bus (city­-sightseeing.co.za). Não muito distante do Soweto fica

o Museu do Apartheid (apartheidmuseum.org). Aliás, em solo sul-africano não faltam museus dedicados a Mandela nem os que mostram como era na África do Sul nos tempos em que tudo era separado e brancos e negros não podiam se misturar. O museu de Joanes­burgo é um deles. Moderno, amplo e dinâmico, retra­ta em fotos, filmes, objetos, documentos e documen­tários como era a vida dos negros sob o regime racial segregacionista. Logo na entrada, as suas duas portas deixam bem claro o que foi o apartheid, classificando o visitante de acordo com a cor da pele, como era feito com os negros e mestiços sul-africanos.

Foto por Istock/ THEGIFT777

Foto por Istock/ THEGIFT777

Deixe de lado o clima pesado e angustiante do apar­theid e vá conhecer a descontraída Nelson Mandela Square (nelsonmandelasquare.co.za), em Sandton. A praça de 1.000 m2 é puro charme. Guarda gracio­sos cafés, restaurantes e lojas, além de uma escul­tura altíssima de Mandela (leia-se ponto de parada obrigatória para um click). Por falar em Mandela, no ano em que se comemora o seu centenário de nasci­mento (1918/2013), que tal seguir os passos dele e criar seu o seu próprio roteiro? Para isso, é só baixar o aplicativo “Madibas Journey”. O app para IOS e An­droid, com versão em português, conta a história do ex-presidente do país e mostra 27 pontos turísticos em cidades sul-africanas relacionados a ele.

Durban, linda e cheia de bossa

Incrível como as paisagens se revezam na África do Sul. São únicas e ao mesmo tempo tão diferenciadas. E mudam o tempo todo. Metrópoles, pequeninas vilas, praias, savanas, vinícolas, montanhas, estradas moder­nas e de terra se intercalam incessantemente diante do olhar. Em cada pedacinho de solo sul-africano, um novo flash e agradáveis surpresas. Durban, na provín­cia de KwaZulu-Natal, na costa leste do país, por exem­plo, é tão linda que a gente fica até atordoado.

Foto por ISTOCK / IFILROM

Foto por ISTOCK / IFILROM

É até difícil dizer o que é mais bonito neste canti­nho à beira-mar da África do Sul: se o azul intenso do Oceano Índico que acaricia suas praias, se a sua gen­te sempre sorridente… As longas e largas avenidas? Os modernos e imponentes edifícios? Os ritmos que ecoam nas ruas? As cores dos cinematográficos cená­rios que se misturam tingindo o infinito? Tudo aqui, neste caleidoscópio de sons, imagens e formas, enfei­tiça e seduz. É tanta vida que pulsa que, se bobear, a gente até esquece o relógio e os compromissos.

O nome desta cidade significa baía, em zulu, a lín­gua nativa mais falada por aqui. O calçadão da Gol­den Mile é um de seus postais. Ele envolve toda a orla de Durban e é a passarela por onde desfilam suntuo­sos hotéis e animados barzinhos, cafeterias e restau­rantes. É palco ainda por onde alegres grupos musi­cais se multiplicam, contagiando com seus ritmos e suas danças as pessoas que nele passam. Durban tem toda a descontração e a leveza características das ci­dades litorâneas, mas é bem mais do que isso.

Foto por Istock/ lcswart

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É um efervescente caldeirão onde os sotaques se misturam e convivem em harmonia. Tão logo pise na cidade, você entenderá o que isso significa. Ao andar pelas ruas, de cara, vai esbarrar em um zulu (mui­tos deles vivem aqui) ou em um indiano – Durban concentra o maior número de expatriados hindus do mundo, além de ser a maior cidade indiana fora da Índia, com um milhão de descendentes. Os costumes e as culturas dessas etnias estão impressos na gas­tronomia, no artesanato e na arquitetura da cidade. Também as suas fisionomias e vestimentas não dei­xam dúvidas quanto às suas origens.

Quer mais? De um pulo até o Victoria Street Mar­ket, no centro. Com fachada que lembra um palácio oriental, concentra um monte de lojinhas pelos seus dois andares (no segundo não há muito o que ver). Ali, se vende de tudo, de carnes e peixes a sapatos e sáris, passando pelas máscaras africanas e pelas “rou­pas” de pele e armas usadas pelos zulus. Curioso é que mesmo pequenas esculturas, túnicas coloridas, sarongues e bijuterias com miçangas, entre outras peças do artesanato sul-africano, são vendidos em lojas cujo o proprietário é um hindu.

Os indianos estão presentes nas lojas que comercia­lizam os perfumados (e saborosos) temperos de seu país, em seus coloridos trajes típicos e até no jeito de negociar: basta parar um pouquinho diante de uma prateleira para olhar os produtos que, pronto, já vem um deles insistindo para você comprar. E como são perseverantes… E também simpáticos. Independen­temente disso, uma dica: se você pretende conhecer o mercado e está pensando em adquirir algo, leve dinheiro, pois os cartões não são aceitos lá.

Instigante também é a gastronomia deste que é o terceiro centro urbano do país, com três milhões de habitantes. Por estar em uma cidade praiana, você pensa que os pratos com frutos do mar são seu forte. E são, mas surgem nos cardápios ao lado dos indianos curries e do Bbunny Show, um pão recheado com cur­ry e que é uma especialidade de Durban. A diversidade cultural-gastronômica também pode ser vista no ele­gante hotel The Oyster Box. Todas os dias, das 14h30 às 17h, em seu salão é servido o high tea, o chá da tar­de (tradição inglesa), que é acompanhado por dezenas de doces e guloseimas (adoradas pelos sul-africanos).

À noite, um dos destaques de seu restaurante, o Ocean Terrace, é o bufê de comida indiana. Na ban­cada não faltam potinhos, cloches e réchauds com pelo menos onze apimentadas variações de curry (frango, cordeiro, cabra, peixe e até uma versão ve­getariana), além de lamb curry (feito com carne de cabra ou de cordeiro e acompanhado por legumes e molho), palak chicken (frango com espinafre) e but­ter chicken, uma espécie de estrogonofe feito com pedacinhos de frango de ou carne.

Influências culturais à parte, não deixe de conhe­cer a Galeria de Arte e o Centro de Arte Africana de Durban, com cerâmicas, cestos, pinturas, bijuterias e bordados feitos com carinho pelas mãos de artesãos de diferentes cidades sul-africanas. Nos trabalhos não faltam contas, miçangas, palha, couro, tecido e barro, além de pedaços de fio telefônico, sacos de plástico, latas de gasolina, tampas de garrafas e até etiquetas de latas de comida, estes últimos utilizados para criar coloridas tigelas em papel machê.

Foto por Istock/ lcswart

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Se você gosta de “fazer arte” nas alturas, o Estádio Moses Mabhida (mmstadium.com) é o point. Atração turística que se exibe no azul céu de Durban, é um es­paço multiuso onde acontecem jogos de futebol e de rúgbi (outra herança dos ingleses), competições es­portivas, shows e outros eventos. Nele, você também pode subir de Sky Car (uma espécie de elevador tipo o da Torre Eiffel em Paris) até uma plataforma de 106 m de altura, desfrutando de uma indescritível vista panorâmica do Índico e da cidade à beira-mar que se estende a perder de vista.

O Moses Mabhida tem um elevado arco, projetado intencionalmente para a prática de big swing – é se­melhante ao bungee jump, só que em vez de você ser impulsionado em direção ao chão, voa como um pên­dulo. Para se lançar neste que é o maior swing do mun­do, motivo por ter sido incluído no “Guinness Book” (o livro dos recordes), vai precisar fazer um treino em terra e subir uma escada de quase 300 degraus. Os 20 segundos de adrenalina são contratados na Big Rush (bigrush.co.za), que funciona no térreo do estádio. So­mente depois disso é que você pula. Tem coragem? Não. Hora de partir para a próxima aventura.

A fuga de Madiba em Howick

Na província de KwaZulu-Natal, o stop obrigatório é a Estrada R103, perto de Howick. O motivo? Foi aqui que Mandela foi preso pela polícia que perseguia seu carro, no dia 5 de agosto de 1962. Foragido havia 17 meses, ele voltava de uma reunião secreta com o presidente do Congresso Nacional Africano, Albert Luthuli, a quem tinha ido informar sobre a sua tem­porada no exterior, incluindo o treinamento militar no Marrocos e na Etiópia, e a sua visita a Londres, na Inglaterra, para buscar apoio para a luta armada.

Disfarçado com uniforme de motorista, Mandela foi parado pela polícia e negou a sua identidade. Porém, os policiais não acreditaram, pois sabiam que ele era o homem mais procurado da África do Sul. Mandela foi preso e levado a julgamento por sair do país sem passaporte e por incitação à greve. Em novembro de 1862, foi sentenciado a cumprir cinco anos de prisão, começando aí a sua árdua trajetória de 27 anos em presídios sul-africanos – o mais lembrado deles fica na Ilha Robben e é aberto à visitação.

Mandela abdicou de sua vida pessoal para se dedi­car a um ideal maior: libertar os negros da opressão do apartheid. Foi e ficou preso por anos pela causa que tanto acreditava e defendia. Praticamente não viu os filhos crescerem. Nem mesmo esteve presente quando nasceram. Depois de ser libertado, Mande­la foi presidente da África do Sul de 1994 a 1999, desempenhando um papel fundamental para a in­tegração do país no período pós-apartheid. Pai da moderna nação sul-africana, onde é carinhosamente chamado como Madiba (nome que foi batizado em seu clã) e Tata (pai), recebeu mais de 250 prêmios e condecorações, incluindo o Nobel da Paz em 1993.

Foto por Istock/ lcswart

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Parte desses fatos e de outros da vida de Mandela estão retratados nos painéis, fotos e vídeos do museu que funciona em Howick. Ali você também vai ver a criativa exposição ao ar livre “O Longo Caminho da Liberdade”. No trajeto de 500 m, placas retangulares de ferro fincadas no chão contam, em ordem crono­lógica, os principais episódios da vida do líder sul-afri­cano. Lá longe, indecifráveis barras negras de aço, de diferentes formatos e alturas, são captadas pelo olhar e desafiam a inteligência de qualquer mortal. Somente a poucos passos do final do percurso e em um ponto específico, elas fazem sentido: juntas, compõem o ros­to de Mandela. Atrás da escultura de Marco Cianfanel­li, com 50 barras de aço cortadas em lazer, a rodovia, o exato lugar onde ele foi capturado pelos policiais.

Perto dali, mas ainda na província de KwaZulu-Natal, não deixe de visitar Midlands Meander. É uma experiência absolutamente mágica. Permeada por paisagens bucólicas, essa região da África do Sul oferece imperdíveis cenários em todas as estações do ano: é tingida por tonalidades de vermelho, cas­tanho e dourado no outono, enquanto a neve abra­ça as suas montanhas no inverno. E, na primavera e no verão, cobre-se de flores, cores e perfumes, exi­bindo múltiplos tons de verde.

Midlands Meander estende-se por uma distância de 80 km entre as cidades de Pietermaritzburg e Mooi River e abriga dezenas de galerias de arte e de artesa­nato. Para conhecer esse lindíssimo recanto sul-afri­cano, o ideal é alugar um carro. A viagem pela estra­da N3, partindo de Joanesburgo, demora de quatro a cinco horas. De Durban, pegue a N3 em direção à Pietermaritzburg (PMB). Mas as agências de viagens locais também podem te levar até lá. Verifique ainda se o hotel que está hospedado não oferece o serviço, pois alguns deles fazem tours de um dia para lá.

Arte aos pés da Cordilheira de Drakensberg

Situada em Champagne Valley, na Cordilheira de Dra­kensberg (foi declarada patrimônio mundial da huma­nidade pela Unesco por abrigar grande variedade de plantas endêmicas e um valioso conjunto de pinturas rupestres do antigo povo San), a Ardmore é um dos mais impressionantes ateliês da África do Sul, reunin­do uma grande coleção de cerâmicas que encanta os apaixonados por arte e design do mundo todo. Suas obras são elaboradas a partir de uma mistura ousada de técnicas e da utilização das vibrantes cores zulu.

Foto por Istock/ Lukas Bischoff

Foto por Istock/ Lukas Bischoff

Inspiradas na exótica fauna e flora africanas, as pe­ças em cerâmica – utilitárias ou simplesmente deco­rativas – são ricas em detalhes. Eles são esculpidos em bandejas, bules, xícaras e outros objetos, em formas de leões, girafas, zebras… Podem retratar ainda cenas da vida selvagem, de sexo e de histórias do folclore sul-africano. Com entrada gratuita, a galeria também abriga o Museu de Cerâmica Bonnie Ntshalintshali e oficinas onde mais de 50 hábeis artesões produzem caprichadas peças, do molde à pintura.

A galeria foi criada por Fée Halsted, uma pintora e ceramista do Zimbabwe, e por Bonakele Ntsha­lintshali, uma artista nativa falecida em 1999. Bon­nie, como era o seu apelido, era paraplégica, tendo contraído poliomielite na infância. A parceria entre as duas artistas não poderia ter sido mais bem-su­cedida: Fée contribuiu com o seu conhecimento em escultura em cerâmica e pintura. Bonnie, por sua vez, acrescentou criativas interpretações inspiradas em ri­tuais africanos e em narrativas bíblicas.

Além da Ardmore, Midlands Meander possui muitos outros tesouros. Se quiser permanecer por mais tempo e explorar melhor a região, o site do Escritório de Tu­rismo de Midlands Meander (midlandsmeander.co.za) pode te ajudar, dando dicas e informações. É bom sa­ber também que que este exuberante território sul-afri­cano guarda, espalhados pelo seu interior, dezenas de bons restaurantes e oferece diversas opções de hospe­dagem, desde hotéis e albergues para mochileiros até resorts suntuosos. Caso do Drakensberg Sun Resort.

Ocupando uma extensa área verde de privilegiada beleza de Cathkin Peak, nas Montanhas Drakensberg, resort (tsogosun.com/drakensberg-sun-resort) é sinô­nimo de diversão e atividades de lazer e entreteni­mento para todas as idades: disponibiliza passeios de barco, de canoa e caminhadas ao pôr do sol em seu lago privado (o Nkwanki), tirolesa, mountain bike e trilhas de diferentes tamanhos e graus de dificuldade nas montanhas – em algumas delas é possível ver curiosos macacos e bandos de baggios.

Foto por Istock/ jacobeukman

Foto por Istock/ jacobeukman

Agora que você tem uma noção do que é a África do Sul, compre a passagem e vá conhecê-la ao vivo e em cores – a South African Airways e a Latam Airlines disponibilizam voos diários e diretos entre São Pau­lo e Joanesburgo, com duração aproximada de nove horas. Um último lembrete: brasileiros não precisam de visto para entrar no país, porém, o Certificado In­ternacional de Vacinação contra a febre amarela é obrigatório. A principal porta de entrada para esse paraíso situado no extremo sul do Continente Africa­no é o Aeroporto Oliver Reginald Tambo, em Jo’burg, como a cosmopolita e descolada Joanesburgo é cari­nhosamente chamada pelos seus habitantes.

O terminal aéreo (johannesburg-airport.com) está a uns 25 quilômetros da cidade. Para chegar e ir embo­ra dele, você pode tomar um táxi – os de lá não têm taxímetros e trabalham com preços estabelecidos. Por isso, negocie o preço da corrida antes de entrar no car­ro. Dê ainda preferência aos veículos com o logotipo do aeroporto. Você também pode pegar um ônibus ou embarcar no Gautrain (gautrain.co.za). Construído para a Copa Mundial de Futebol de 2010, esse trem de alta velocidade vai te levar aos principais bairros da ci­dade – tem estações em Sandton e Rosebank, além de Pretória, um distrito que fica cerca de 60 quilômetros de distância de Joanesburgo.

Como chegar

A Latam Airlines e South African Airways têm voos diários e diretos entre São Paulo e Joanesburgo, na África do Sul.

Onde ficar

CABO ORIENTAL

Woodbury Tented Camp

Safári Lodge

JOANESBURGO

Crowne Plaza Rosebank 

DURBAN

Hotel Southern Sun Elangeni

Beverly Hills Hotel

DRAKENSBERG

Drakensberg Sun Resort

Onde comer

JOANESBURGO

Big Mouth

The Local Grill

DURBAN

California Dreaming

The Oyster Box

Chef’s Table no Protea Mall

Hilton Hotel – 12-14 Walnut Road, Durban, 4001, tel. +27 31 336-8100

Havana Grill

9th Avenue Bistro

Hartford House

DRAKENSBERG

Caversham Mill

Texto por: Fabíola Musarra. A jornalista viajou para a África do Sul a convite da South Africa Tourism e Latam Airlines.

Foto destaque por Istock/ Hajakely

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