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Um roteiro pelos “santuários” de reprodução das aves oceânicas

Foto por Dimas Gianuca/ Projeto Albatroz

Apesar de passarem a maior parte da vida em alto mar, albatrozes e petréis, aves oceânicas ameaçadas de extinção, encontram em ilhas remotas o ambiente perfeito para sua reprodução. Essas aves se alimentam em águas brasileiras e se reproduzem em ilhas de outros continentes, afastadas de qualquer contato com possíveis ameaças da civilização.

Com expectativa de vida em torno de 70 anos, os animais são fiéis e se encontram com o mesmo parceiro em todo período de reprodução, na mesma ilha. Sua existência, porém, é frágil: milhares de albatrozes e petréis, apesar de serem animais topo de cadeia alimentar, morrem todos os anos vítimas da interação com a pesca de espinhel.

Foto por Istock/ Myroslava

Por esse motivo, ilhas e arquipélagos dos mares do sul são verdadeiros santuários de reprodução e observação destes animais. O turismo destes habitats, portanto, necessita ser responsável e controlado. Mas são, de fato, ótimos locais para o turismo e visitação.

Que tal conhecê-los e ver de perto a ave marinha com as maiores asas do mundo (até 3,5m de uma ponta à outra)? A missão é bem mais fácil do que no Brasil, onde eles só são encontrados em alto mar:

1. Malvinas/Falklands

A porção mais ao sul da América é rica em ilhas próximas da Antártica. As Malvinas ou Falklands são um arquipélago com cerca de 700 ilhas, localizado próximo à costa da Argentina. Dentre todas, merecem destaque as duas maiores: Malvina Ocidental e Oriental. Nelas, estão a sede do governo local e cerca de três mil habitantes.

O clima é oceânico, com ventos frios e úmidos, chuvas durante grande parte do ano e sol forte. As aves vivem e se reproduzem predominantemente nas ilhas menores, mais isoladas do restante dos animais e homens. É lá que os Albatrozes-de-Sobrancelha-Negr a brasileiros se reproduzem, assim como Petréis-Gigantes-do-Sul.

Ao contrário do que se encontra em ilhas menores, as Falklands ou Malvinas têm uma extensa rede de turismo. No site oficial do arquipélago há detalhes de vôos e agências de viagens com pacotes especiais.

Como não existe quem conheça melhor as ilhas do que seus próprios habitantes, existem guias locais que oferecem pacotes personalizados de turismo ecológico para a visitação das ilhas, observação de pássaros e outros animais – respeitando o ambiente que vivem. São parte das obrigações previstas pelos países membros do ACAP, conservar os locais de reprodução e evitar perturbações às aves. Isso pode interferir diretamente na população de algumas espécies já ameaçadas de extinção.

2. Geórgia do Sul

Outra ilha localizada no extremo sul do continente americano, é território do Reino Unido. Situa-se próximo da Antártida e é povoada apenas por funcionários do serviço britânico e cientistas instalados em algumas bases de pesquisa. Por estar isolada no oceano Atlântico, longe de rotas comerciais de navegação, é ponto ideal de reprodução de grandes aves e mamíferos. Entre eles: pinguins, lobos e elefantes marinhos, albatrozes e petréis.

A visitação do local é possível e um belo convite para acompanhar o desenvolvimento da vida marinha em ambientes selvagens extremos, além da observação de paisagens incríveis.

Foto por Istock/ webguzs

Há alguns anos, a multiplicação de roedores na ilha ameaçou a reprodução das espécies de aves, como Albatrozes-Viageiros e Pardelas-Pretas. Isto porque, enquanto o ovo ou o filhote da espécie se desenvolve no ninho, os pais vão ao mar garantir o alimento da família. Os ratos, então, se valem da indefensibilidade dos animais para devorá-los. Hoje a situação já está controlada.

O melhor período para a visitação da Geórgia do Sul ocorre entre os meses de novembro e março, no verão, quando as temperaturas são mais amenas (acima de zero). O gelo que cobre grande parte da ilha é derretido, facilitando a visitação por terra, além de atividades como trilhas e observação das aves.

A fim de contribuir para a conservação ambiental do lugar, protegendo a vegetação e as espécies que se reproduzem ali, o turismo é controlado e realizado apenas por expedições marinhas. Elas são realizadas por empresas cadastradas na International Association of Antarctica Tour Operators (IAATO).

3. Tristão da Cunha

Apesar do nome em português, o arquipélago de Tristão da Cunha é parte do território ultramarino britânico. Ele é constituído por seis grandes ilhas a mais de 3300 Km de distância do Rio de Janeiro. Considerado o arquipélago mais remoto do mundo, é habitado por menos de trezentas pessoas divididas entre sete famílias.

Os cruzeiros marítimos são as únicas rotas turísticas para chegar à ilha. Não há estradas ou aeroportos, apenas um terminal pesqueiro que recebe visitantes do mundo todo. O parque vulcânico é um dos principais locais de visitação.

No site oficial do país há indicações sobre como fazer turismo na principal ilha. No que diz respeito ao turismo ecológico, não faltam áreas de reprodução e convívio de espécies como pinguins rockhopper, elefantes marinhos e albatrozes e petréis, como os Albatrozes-de-Tristao, de Nariz-Amarelo e as Pardelas-de-Óculos e Petréís-Gigantes-do-Sul.

Os Albatrozes-de-Tristão fizeram da ilha seu único local de reprodução e por isso nomeiam o local. No entanto, a principal rota desta espécie atualmente é na ilha de Gough, também parte do arquipélago.

4. Ilha Gough

Parte do Arquipélago de Tristão da Cunha, a ilha de Gough é porto seguro para algumas espécies de aves marítimas como Albatrozes-de-Nariz Amarelo, Albatrozes-de-Tristão, Pardelas-de-óculos e os Albatrozes-Reais-do-Norte.

Foto por Istock/ JoeGough

Também conhecida como Ilha de Gonçalo Álvares, devido ao descobrimento português, está localizada em uma posição privilegiada: na região dos cumes emersos da dorsal mesoatlântica, a cadeia montanhosa submarina que atravessa o Oceano Atlântico de norte a sul. Nela, se encontram as principais correntes marítimas quentes e frias do planeta, condições que garantem uma vida marinha bastante rica.

Por isso, albatrozes e petréis costumam construir seus ninhos e se reproduzir na costa. Nela, afastados da perturbação humana e da pesca, conseguem manter seus ovos e filhotes em segurança, além de caçarem alimentos nas redondezas.

Diferentemente de Tristão da Cunha, Gough não é povoada. No local há somente uma estação meteorológica e seus funcionários. O turismo é possível apenas por expedições oceânicas encontradas em Tristão.

Projeto Albatroz

Como o albatroz é uma ave que migra entre diferentes continentes, a missão de sua conservação é mundial. O Brasil, ciente de sua responsabilidade, é membro do Acordo Internacional para Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP).

Para cumprir com as obrigações do ACAP, o país conta com o Projeto Albatroz, uma organização sem fins lucrativos que tem apoio internacional e o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental para trabalhar pela conservação dessas aves e consequentemente dos oceanos.

Foto por Dimas Gianuca/ Projeto Albatroz

Por ano, cerca de 300 mil aves marinhas são capturadas no mundo. Um terço delas são albatrozes e petréis. No Brasil estima-se que 4 mil animais dessas espécies sejam capturados incidentalmente pela pesca de espinhel por ano. Das 10 espécies de albatrozes que ocorrem no Brasil, nove estão ameaçadas de extinção. No mundo, um albatroz morre a cada 5 minutos.

Reduzir a captura incidental de albatrozes e petréis é a principal missão do Projeto Albatroz, mantido pelo Instituto Albatroz – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que trabalha em parceria com o Poder Público, empresas pesqueiras e pescadores.

A principal linha de ação do Projeto é o desenvolvimento de pesquisas para subsidiar políticas públicas e a promoção de ações de educação ambiental junto aos pescadores e às escolas.

O resultado deste esforço tem se traduzido na formulação de medidas que protegem as aves, na sensibilização da sociedade quanto à importância da existência dos albatrozes e petréis para o equilíbrio do meio ambiente marinho e no apoio dos pescadores ao uso de medidas para reduzir a captura dessas aves no Brasil.

Atualmente, o Projeto mantém bases nas cidades de Santos (SP), Itajaí (SC), Itaipava (ES), Rio Grande (RS) e Cabo Frio (RJ).

Foto destaque por Dimas Gianuca/ Projeto Albatroz

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