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PATAGÔNIA CHILENA: uma aventura no fim do mundo

A bordo do navio Via Australis percorremos o mítico Estreito de Magalhães através de glaciares milenares, fiordes e natureza intocada e exuberante, em umas das regiões mais geladas do planeta: a Terra do Fogo, o ponto mais extremo da América do Sul.

Por Roberto Maia.


Quantas vezes você já ouviu a expressão “no fim do mundo”, quando alguém enfatiza o quanto um determinado lugar é longe? Muitas vezes, certamente. Agora, você já pensou em viajar para o fim do mundo? Pois saiba que o lugar nem é tão longe e, acredite, é muito bonito. E gelado. O chamado Fim do Mundo fica no extremo sul do Chile, mais especificamente na Terra do Fogo, na Patagônia Chilena.

Para chegar até lá, a aventura começa na cidade de Punta Arenas, base dos cruzeiros de expedição através do Estreito de Magalhães, a mítica passagem de 600 km entre os oceanos Pacífico e Atlântico, que leva o nome do navegador português Fernão de Magalhães, que viajou pela região em 1520. Foi ele, também, que batizou o lugar de Terra do Fogo ao avistar as fogueiras acesas pelos nativos.

Considerada a “Capital da Patagônia Chilena”, Punta Arenas – onde se encontra o principal aeroporto da região – sempre foi o ponto de partida para as grandes expedições à Antártica. Está a 315 km das famosas Torres del Paine. Também é o ponto de partida para os turistas em viagem ao extremo sul chileno. A cidade chama a atenção pela limpeza e pelo vento gelado que sopra de forma constante, além de seu patrimônio histórico.

Ponto de partida para as grandes expedições à Antártica e ao extremo sul chileno, Punta Arenas é uma cidade pacata que chama a atenção pelo rico patrimônio histórico, pela limpeza e pelo vento gelado que sopra de forma constante. FOTO: DIVULGAÇÃO

Comece o tour pela Praça de Armas Muñoz Gamero e cumpra uma antiga tradição: toque ou beije o pé do índio aónikenk do monumento a Magalhães. Dizem que quem faz isso voltará a visitar a Patagônia. Entre as principais atrações da cidade estão o centro histórico, com destaque para o Palácio Sarah Brown – que atualmente abriga um restaurante – e um hotel 5 estrelas tombado pelo Patrimônio Histórico do Chile; um badalado cassino no hotel da rede Dream, que tem, ainda, um spa, discoteca e restaurante; a Nau Victoria, uma réplica em tamanho real do navio usado por Fernão de Magalhães, que abriga um museu sobre as grandes viagens marítimas que passaram pela Terra do Fogo; e o Museu Regional de Magalhães, um verdadeiro palácio art nouveau que guarda uma coleção de objetos e móveis de época da casa que mandou construir o empresário Mauricio Braun, em 1903.

Tem gente que não gosta, mas o Cemitério Municipal – um dos mais belos da América do Sul – também integra o roteiro turístico. Seus ciprestes cuidadosamente enfeitados, os mausoléus, jardins e as extravagantes tumbas de personagens como José Menéndez, barão do negócio das ovelhas de épocas passadas, se misturam com os restos de esforçados imigrantes e marinheiros que fizeram de Magalhães o destino final de suas vidas. Não deixe de aproveitar para fazer compras em Punta Arenas. A cidade é uma Zona Franca e o comércio de produtos é livre de impostos.


Os barcos Zodiac levam os passageiros para expedições em terra. FOTO: DIVULGAÇÃO

TODOS A BORDO! VAI COMEÇAR A AVENTURA

Após o pit stop em Punta Arenas é chegada a hora de seguir viagem e dar início à aventura rumo ao fim do mundo, à Terra do Fogo. É bom deixar claro que essa não é uma viagem qualquer, é preciso ter espírito aventureiro. Esse tipo de turismo de experiência exige muita disposição e preparo físico, pois expõe os participantes a temperaturas baixas – e sensação térmica que pode chegar a muitos graus abaixo de zero -, chuva, neve e águas geladas. O público que busca esse tipo de viagemé diferente dos que procuram os cruzeiros normais. São pessoas em busca de experiências diferentes. E encontram.

Mas tudo é feito com muita segurança e conforto à bordo dos navios da Australis, companhia de cruzeiros especializada em navegação nessa região de clima complicado e águas turbulentas. Suas duas embarcações – Stella Australis e Via Australis – realizam cruzeiros de sete, quatro e três noites que saem de Punta Arenas com destino a Ushuaia (Argentina) e vice-versa. É possível iniciar um cruzeiro da Australis tanto no Chile, quanto na Argentina. Nos roteiros estão o Estreito de Magalhães, o Canal de Beagle e a Terra do Fogo, navegando através de glaciares e fiordes até chegar ao instigante Cabo Horn.

QUAL VIAGEM participou de um novo roteiro round trip com duração de três noites a bordo do Via Australis, navio com capacidade para 136 passageiros. Além de um grupo de jornalistas e agentes de viagem brasileiros, haviam chilenos, espanhóis, americanos, alemães e ingleses.

Durante expedição na Baía Almirantazgo é possível fotografar elefantes-marinhos bem de perto. FOTO: ROBERTO MAIA

O embarque acontece no final da tarde e, no início da noite, o capitão e sua tripulação reúne os passageiros em um dos salões e dá as boas-vindas a bordo do Via Australis em um rápido coquetel. Assim começa uma grande aventura que percorre o Estreito de Magalhães e canais fueguinos rumo à Patagônia e a Terra do Fogo.

O barco navega a noite toda até chegar à Baía Almirantazgo. Após o café da manhã, grupos de oito a doze pessoas são formados para o desembarque a bordo dos barcos de borracha chamados Zodiac. O vento gelado parece cortar o rosto dos participantes, apesar de todos estarem muito bem agasalhados. Antes de chegar à terra, os botes percorrem a costa com o objetivo de avistar elefantes marinhos, cormorões e outras aves. E não foi difícil. Em uma praia, dezenas de elefantes-marinhos se exibiam para as fotos dos aventureiros turistas.

Em terra, o grupo participa de uma caminhada de cerca de duas horas e sempre acompanhados por guias experientes, que informam sobre a fauna e flora da região e auxiliam no caso de alguma necessidade. O bosque é úmido e no caminho o contato com enormes elefantes-marinhos é muito próximo. Impossível conter a sensação de empolgação e êxtase. O terreno é bastante acidentado e com muitas poças d’água.

O navio Via Australis navega pelo Estreito de Magalhães e em meio a enormes
glaciares

Em meio à natureza praticamente intacta o ponto final da caminhada é uma cascata de origem glacial que despenca de uma altura de cerca de 200 metros. A caminhada de volta é igualmente complicada e percebe-se que o clima muda rapidamente. A maré sobe em instantes, pequenos flocos de neve começam a cair e o vento mostra-se ainda mais implacável. A viagem de volta nos Zodiac acontece em meio a fortes ondas. Os experientes condutores reduzem e aceleram conforme o movimento forte das águas. Impossível não se molhar. Ao chegar ao Via Australis todos são recepcionados com um delicioso copo de chocolate quente com uísque. Nada mais apropriado.

Pausa apenas para um banho quente e almoço antes de um novo desembarque. À tarde, o barco navega pelo Fiorde Parry, onde estão os glaciares que descem desde o centro da cordilheira Darwin e alguns deles chegando até ao mar. A bordo dos botes os grupos desembarcam rumo ao fundo do fiorde até um local em que possam apreciar o anfiteatro de glaciares, região onde em algumas ocasiões é possível avistar focas leopardo.

A Ilha Magdalena – parada obrigatória para o abastecimento de antigos navegantes e descobridores – abriga uma colônia com milhares de pinguins-demagalhães, que procuram o lugar para reprodução. FOTO: DIVULGAÇÃO

Na manhã do segundo dia, o barco navega através do grande fiorde Seno Almirantazgo, até chegar às imediações do Glaciar Marinelli na Baía Ainsworth, em plena Cordilheira Darwin e dentro do Parque Nacional Alberto de Agostini, onde se pode ver como renasce a vida após o degelo. Foi nessa região, que o cientista inglês Charles Darwin, no início do século passado, reuniu elementos para concluir seus estudos sobre biodiversidade e sua teoria da evolução. O tempo ruim impediu o desembarque. O comandante e os tripulantes ressaltam que a segurança e o bem-estar dos passageiros está acima de qualquer coisa. O programa não realizado incluiria uma caminhada para descobrir um dique de castores e um bosque magalhânico sub-antártico que o rodeia.

O destino seguinte, à tarde é o Glaciar Brookes, onde os passageiros desembarcaram nos Zodiac para realizar uma caminhada pela praia até chegar em frente ao imponente e belo glaciar. O imenso bloco de gelo condensado tem a altura de um prédio de oito andares. Os glaciares são grandes massas de gelo em movimento e, quanto menor a presença de ar no gelo, maior a absorção das ondas azuis do céu, por isso, a cor azulada de alguns deles. O bosque frio e úmido da Patagônia abriga muitas aves e pequenos animais, cujos rastros podem ser percebidos pelo caminho.

A Ilha Magdalena é a atração do último dia da viagem. Logo pela manhã, por volta das 7 horas, ocorre o desembarque na Ilha Magdalena, parada obrigatória para o abastecimento de antigos navegantes e descobridores.

Durante a caminhada até o farol é possível apreciar uma colônia com mais de 70 mil pinguins-de-magalhães, que procuram o lugar para reprodução. A ilha fica próxima da Ilha Marta, outro santuário dos pinguins. Entre os meses de setembro e abril esta excursão é substituída por um desembarque na Ilha Marta, onde os participantes observam também os leões marinhos.

TRANQUILIDADE E CONFORTO A BORDO

Diferentemente dos navios tradicionais de cruzeiros marítimos, os navios da Australis não dispõem de muitas atividades, já que as expedições são as atrações. Durante as viagens os passageiros ficam sem saber o que está acontecendo no mundo, pois não há sinal de celular, internet e nem televisão a bordo. Se precisar se comunicar com o mundo exterior há telefone via satélite – pré-pago. O jeito é ler, jogar cartas e outros jogos de tabuleiro. Há uma única sessão de cinema com filmes e documentários sobre a região.

Antes do jantar quase todos os passageiros se encontram no bar – all inclusive – para um drinque. Entre os licores e vinhos selecionados a estrela é o Calafate Sour.

A culinária a bordo é de nível internacional com almoços em buffet e jantares a la carte. Abaixo, passageiros observam Punta Arenas ficando para trás para o início do cruzeiro. FOTOS: DIVULGAÇÃO

A culinária a bordo é de nível internacional e cuidada com esmero pelo chef Emilio Peschiera. O vinho servido é de uma seleção premium. Por isso, o almoço – em sistema de buffet – e o jantar – a la carte – parecem ser verdadeiros prêmios aos bravos aventureiros do cruzeiro.

Todas as noites durante a viagem são programadas palestras sobre a flora, fauna, história e geografia da região. O objetivo é preparar os passageiros para as atividades do dia seguinte e apresentar a Patagônia, mostrando as características e peculiaridades do lugar. Confesso que quando desembarquei do Via Australis no porto de Punta Arenas, continuei sentindo a sensação de que ainda estava no barco balançando. Apesar do desconforto, comecei a imaginar como desbravadores como Fernão de Magalhães, no século 16, em embarcações precárias sem nenhuma tecnologia que conhecemos atualmente, enfrentou as condições climáticas da região. Mas, tenho certeza que ele sentiu o mesmo prazer que eu senti ao vislumbrar o cenário glacial intocado e belo. Impossível não ficar emocionado. Me senti poderoso, afinal, essa é uma viagem para os fortes!


PARA QUANDO VOCÊ FOR A PATAGÔNIA CHILENA

Peso Chileno (CLP) – R$ 1 = 232 CLP.

Uma hora a menos em relação ao horário de Brasília.

A temperatura média no verão é de 9ºC, com dias bem longos. No inverno, a média é de 1ºC, e o dia dura pouco mais de 7 horas. No outono e primavera, o tempo é ainda mais instável que o resto do ano. Os ventos aumentam de intensidade de agosto a janeiro.

Para aproveitar sua viagem ao máximo e devido às imprevisíveis condições climáticas, é essencial levar equipamento adequado. Na mala não pode faltar gorro, óculos escuros, bloqueador solar, luvas, jaqueta e calça impermeáveis, suéter e sapatos ou botas de trekking – também impermeáveis.

Se você costuma enjoar em passeios e viagens de barco, não se esqueça de levar remédios contra enjoos.

As companhias aéreas Sky Airline (www.skyairline.com.cl) e LAN (www.lan.com) possuem voos partindo de São Paulo para Santiago e com conexão para Punta Arenas.

Para ligação a cobrar utilize o serviço BrasilDireto da Embratel – 800 360 220 – e siga as instruções em português.

Hotel Cabo de Hornos Tel. (56-61)715 000 ou www.hotelcabodehornos.com

ANCORADOURO – www.ancoradourooperadora.com.br

CVC – www.cvc.com.br

MAKTOUR – www.maktour.com.br

MK TRAVEL – www.mktravel.com.br

MMTGAPNET – www.mmtgapnet.com.br

NASCIMENTO TURISMO – www.nascimento.com.br

TAM VIAGENS – www.tamviagens.com.br

TEREZA PEREZ TOUR – www.teresaperez.com.br

VISUAL – www.visualturismo.com.br

www.australis.com
www.integracom.com.br


O jornalista viajou a convite da Cruceros Australis, Sky Airline e Integra Group e contou com a proteção do seguro-viagem da GTA – Global Travel Assistance.

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