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Ruta 40, na Argentina: conheça a estrada mais espetacular do mundo de ponta a ponta

25 de julho de 2018

De Cabo Vírgenes a La Quiaca, estrada de mais de 5 mil quilômetros é fetiche de motociclistas em busca de uma travessia nacional no “currículo”

 

Lo importante no es llegar, lo importante es el camino“, diz a canção Eso Que Llevas Ahí, do roqueiro argentino Fito Páez. E essa frase, que poderia ser uma máxima de todo viajante, é especialmente certa para quem decide atravessar a Ruta 40, que corta todo o território argentino: não se trata de um caminho qualquer, mas a estrada mais famosa da América Latina.

Ao longo de seus quase 5.200 quilômetros, a Ruta atravessa 11 províncias, 20 parques nacionais e reservas naturais, sobe quase cinco mil metros acima do nível do mar, trepa em montanhas e baixa em vales, cruza 236 pontes e, ao mesmo tempo, atravessa rios e corta bosques e desertos, além de passar por vulcões e geleiras.

A estrada ainda conecta 27 caminhos pela Cordilheira dos Andes com o Chile, permitindo desfrutar da fauna selvagem ou então visitar sítios arqueológicos e paleontológicos de milhares de anos. É que, além de uma rodovia, a Ruta 40 é, antes de qualquer coisa, o que ela conecta: as geleiras do sul argentino com as salinas do norte, os bosques de Neuquén ou de Chubut com as árvores de Catamarca e de La Rioja.

Foto por Istock

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Seu traçado original data de 1935, mas ao longo de sua história sofreu várias modificações até adquirir sua forma atual, um caminho que começa em Cabo Vírgenes, no extremo Sul de Santa Cruz, e vai até La Quiaca, em Jujuy, no extremo Norte, sempre aos pés da Cordilheira.

No começo, em Cabo Vírgenes, em uma praia deserta, os viajantes já entram na reserva da província de Santa Cruz, que possui a segunda maior colônia de pinguins da América do Sul. A primeira cidade chega apenas depois de 126 km: Río Gallegos, e é só depois de quase 260 quilômetros que se pode ver a Cordilheira, no povoado de 28 de Noviembre. Dali em diante, ela se torna uma acompanhante até o final dos 4.700 km de rota.

Em El Calafate, uma cidade bastante visitada por turistas brasileiros no inverno por causa da geleira Perito Moreno, a 80 km dali, a Ruta ganha restaurantes, museus e um trânsito intenso de cavalos — são os gauchos à caminho do município em busca de algumas moedas dos visitantes. Perto dali está o albergue La Leona, construído em 1893 por uma família de imigrantes dinamarqueses que alojou, segundo os relatos locais, vários bandidos históricos dos planaltos argentinos.

Da pequena hospedaria em diante, começa um dos trechos mais desoladores da estrada, com muitos quilômetros de cascalho. Apesar da paisagem exuberante da Cordilheira à frente, os motociclistas evitam passar por ali com o capacete aberto — há registros de carros atolados que esperam por horas a passagem de um veículo maior.

Foto por IStock

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Desviando da 40 para entrar rapidamente na Ruta 97, o viajante enfrenta mais cascalho para chegar à Cueva de Las Manos, um testemunho de milhares de anos de seres humanos que gravaram suas mãos nas pedras da região. Até hoje é considerado um dos sinais mais impressionantes da presença do homem na Terra. Perto dali, saindo pela Ruta 39 em direção ao Lago Posadas, há ainda a paisagem do Lago Pueyrredón.

A Ruta 40 chega à sua primeira grande cidade apenas muitos quilômetros depois: é Río Negro, conhecida na Argentina pela sua famosa feira de artesanatos na praça principal, as cervejas artesanais, as frutas e, no horizonte, a montanha Piltriquitrón, o Bosque Tallado, o Valle del Río Azul e a cachoeira Escondida.

Em Villa La Angostura, a estrada começa um dos traçados mais bonitos: passa pelos bosques do Parque Nacional Arrayanes, onde se inicia a Ruta de los Siete Lagos — são algumas horas cruzando uma variedade de lagos frios patagônicos. “É uma paisagem mais linda do que a outra”, sentencia o jornalista Guilherme Henrique, que visitou a cidade argentina no ano passado.

Depois o viajante entra na província de Mendoza, que guarda a desconhecida reserva La Payunia com seus mais de 800 cones vulcânicos — é uma das zonas com mais densidade de vulcões do mundo — e o Payún Liso, montanha de 3.715 metros. É ali também que se inicia a Rota do Vinho de Mendoza, que cruza 100 km de território repleto de vinícolas e modernas bodegas.

Foto por IStock

Foto por IStock

Os vinhos em Mendoza também se apropriaram de uma maneira de irrigar as plantas com água de degelo das montanhas. O sistema de goteo, ou gotejamento, em português, utiliza água de degelo das montanhas geladas para umedecer as vinhas e as frutas.

Em geral, são construídos canais cujas fontes estão nos pés dos Andes e que, quando chegam à vinícola, formam pequenos rios naturais. A água da Cordilheira é armazenada em poços, o que garante uma economia de até 95% da utilização de água. No caso de Santiago, no Chile, o sistema beneficia até mesmo o abastecimento urbano.

 

De Mendoza a San Juan são 170 km aos pés da Cordilheira, cujos desvios podem levar ao Parque Nacional El Leoncito, à cidade de Huaco, à reserva Ischigualasto ou ao Valle de La Luna, já no Parque Nacional Talampaya, perto de La Rioja. Passando por Villa Unión, se inicia outro trecho exuberante: a Cuesta de Miranda, que sobe 1.500 metros em apenas 12 km, com várias curvas em uma paisagem que abarca todas as cores naturais possíveis. Depois de descer até a cidade de Nonogasta, a Ruta 40 se converte em uma rodovia até o município histórico de Chilecito.

Dali em diante começa o Norte argentino: quente, desértico, histórico, isolado e repleto de oásis e cidades perdidas no nada. Em Puna, já em Catamarca, há o conhecido vulcão Ojos del Salado — o mais alto do mundo. A estrada passa ainda por cidades como Londres, Belén, Santa María até entrar em Tucumán, onde os viajantes encontram as Ruínas de Quilmes, os restos do maior assentamento pré-colombiano do país. Perto dali, pela Ruta 307, se chega a Amaicha del Valle, com um observatório astronômico e o Museo Pachamama.

Apenas 23 km depois, cruza-se a fronteira de Salta, com o Parque Nacional Los Cardones, onde a estrada sobe em zigue-zague pela montanha até seu ponto mais alto, a Abra de Acay, com 4.895 metros. É o trecho mais alto do mundo para uma rodovia nacional e o caminho mais elevado do planeta fora da Ásia. Ainda lá no alto se localiza a pequena cidade de San Antonio de los Cobres, com 3.8 mil metros de altitude que celebra todos os meses de agosto a Festa Nacional de Pachamama – a divindade Inca.

Foto por Istock/ estivillml

Foto por Istock/ estivillml

A 40 km adiante se passa embaixo do Viaducto La Polvorilla, uma lendária obra da engenharia do país em que um trem passa a uma altura de um prédio de 20 andares dos motoristas lá embaixo. Não à toa, o lugar é chamado de Tren a las Nubes. Ali já se está na fronteira de Jujuy, onde estão as Salinas Grandes — entre os 17 lugares mais selvagens e bonitos do mundo, segundo a revista estadunidense National Geographic –, o Valle de La Luna da província e, enfim, La Quiaca, conhecida pelos discos do músico argentino Gustavo Santaolalla.

Então, se terminará a viagem pela estrada mais espetacular da América do Sul. Mas apenas em parte, porque como dizia o decano do jornalismo argentino Federico Kirbus, a Ruta 40 é uma estrada interminável que “nunca se termina de recorrer”.

Texto por: Agência com edição

Foto destaque por IStock/ Gabriela Cardoso

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