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Caxias, uma cidade que virou poesia

Foto por Natalia Bastos

Quando se pensa nas atrações turísticas do estado do Maranhão, nos vêm à cabeça São Luís, os Lençóis, Alcântara e a Chapada das Mesas. Mas visitar Caxias e sua bela região é mergulhar num mundo de poetas, de gastronomia ímpar, de igrejas centenárias que foram testemunhas da Guerra da Balaiada e se adentrar numa fauna e flora pré-Amazônica totalmente preservada.

A cidade de Caxias está localizada bem no leste do Maranhão e é banhada pelo Rio Itapecuru, que rasga a cidade e oferece diversos recantos de banhos naturais. Cercada de rios e riachos por to­dos os lados, é também considerada o paraíso das águas, e por suas matas intocadas atrai observadores de pássaros e amantes do ecoturismo, como a reserva do Inhamum. Vale a pena reservar uma manhã para explorar as trilhas desse oásis de mata nativa. Os agen­damentos devem ser feitos diretamente na prefeitura da cidade através da Secretaria de Meio Ambiente.

O município fica a 70 km de Teresina e a 370 km de São Luís e oferece arquitetura herdada do século 19. Em suas ruas, é possível observar a conservação de seus patrimônios históricos. Conhecida como a “Terra das Águas Cristalinas”, ou a “Princesinha do Sertão”, em seu entorno gravitam muitos municípios que es­tão em constante desenvolvimento, sendo uma região entrecortada por um manancial composto pelo Rio Itapecuru e seus afluentes.

Caxias tem um comércio efervescente, bons restau­rantes, casas noturnas e uma rede hoteleira que não compromete. Vale conhecer esse monumento histó­rico do Brasil e se deliciar com as belezas e maravilhas da região. A cidade abriga várias igrejas centenárias e parte do seu casario está preservada. Você deve vi­sitar a Academia Caxiense de Letras, que é um dos pontos turísticos mais importantes. Ela também é co­nhecida como “A Casa de Coelho Neto”. A academia possui um acervo de mais de quatro mil livros, dentre eles destaca-se uma coleção de 16 livros raros desse célebre escritor caxiense.

Foto por Secretaria Municipal de Turismo de Caxias

Caxias, no Maranhão, foi a última cidade do Nor­deste a aderir à independência do Brasil. Ali foi travada uma das mais sangrentas e duradouras batalhas do país, a Guerra da Balaiada. Por conta desta ba­talha, Luís Alves de Lima e Silva recebeu o título de Duque de Caxias e, somente depois, outras cidades foram batizadas com o nome de Caxias, como Duque de Caxias no Rio de Janeiro e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, já em homenagem ao então Duque.

O memorial da Balaiada guarda a história do movi­mento popular acontecido em 1839 nessa importan­te cidade maranhense. Fica situada na Praça Duque de Caxias, no morro do Alecrim. No Museu-Escola da Balaiada a história é resgatada desde o olhar dos valorosos caxienses que protagonizaram uma das re­beliões populares mais heterogêneas do país, com a participação de vaqueiros, indígenas, escravos, mes­tiços e brancos pobres.

Banhos e matas para refrescar-se do calor

A cidade de Caxias tem temperaturas bastante al­tas durante quase o ano todo, com os termômetros chegando facilmente a 35°C. Para amenizar o calor, a dica é passar um dia no Balneário Veneza, que tem um lago que represa as águas medicinais de uma fonte de águas minerais localizada a poucos metros dali. O balneário está localizado às margens da rodovia MA- 034, com bares e restaurantes em volta. No imaginário popular caxiense, há diversas lendas, e é por isso que recuperamos uma das histórias que explicam a origem da lama medicinal. Contam que, já faz algum tempo, uma menina chamada Veneza morava com a madras­ta, uma mulher muito má. Um dia o pai saiu e a me­nina foi obrigada a ir ao comércio, um lugar distante cujo caminho passava por meio de um bosque assom­brado. Forçada a ir, Veneza nunca mais voltou. Mas sete dias depois apareceu em um sonho da madrasta pedindo para ela se arrepender, em caso contrário, a menina ficaria encantada na água do balneário e for­maria uma poça de lama da cor do pecado da mulher. Foi assim que a menina ficou no fundo da água e virou uma lama medicinal. Outras versões contam que a madrasta afundou a menina na água e virou lama.

Em uma região tão quente, o braço do Rio Itape­curu se torna uma das principais diversões da cidade aos finais de semana. A cidade tem várias nascentes, com mais de 20 balneários populares. Na estrada que liga Caxias a Teresina, você também encontrará diver­sos balneários, que oferecem vestiários, restaurantes e piscinas naturais para se refrescar. São locais ideais para quem quer desfrutar da família, abaixar a tempe­ratura corporal e sentir a paz que a natureza oferece.

Foto por David Sousa

A Reserva Ambiental do Inhamum fica a meia hora do centro da cidade, sendo uma área de proteção am­biental onde a mata intocada da reserva ecológica é cheia de vida: córregos, riachos e nascentes cristalinas. Com 30 km² de belezas naturais e uma exuberante flo­ra e fauna, com sorte você pode ver preguiças e vários tipos de aves, como tucanos, seriemas, entre outros.

No parque tem uma equipe de seis pessoas que po­dem guia-lo e acrescentar informações que à primeira vista não dá para enxergar. Para aqueles apaixonados pela natureza, que gostam de trilhas e de se refres­car nas lagoas, conhecer a reserva do Inhamum é um passeio obrigatório. É recomendável fazer uma visita acompanhado de alguém local que conheça bem os caminhos – para isso, você deve ir à Secretaria Muni­cipal do Meio Ambiente.

 Berço de grandes escritores

Terra de águas cristalinas e berço de grandes escrito­res como Gonçalves Dias, Vespasiano Ramos, Teófilo Dias e o positivista Raimundo Teixeira Mendes, que influenciado por Auguste Comte criou o lema da ban­deira nacional “ordem e progresso”, nos reporta sem­pre a lendas, tradições, religiosidade e fé. A identida­de cultural dos caxienses é uma mistura étnica que resultou na formação de uma população que ama a flora e a fauna, que conhece e desfruta das particu­laridades culinárias e que proclama com orgulho um passado rico em fatos históricos.

Balaiada: a insurreição popular do século 19

Localizado no Morro do Alecrim, no ponto mais emblemático da cidade, no complexo cultural encontramos as ruínas do antigo Quartel da Balaiada. Construído recentemente, o complexo turístico é uma área de lazer onde se concentram diversos bares e restaurantes, uma pequena trilha ecológica e um mirante, de onde se tem uma vista panorâmica da cidade, podendo reconhecer desde as alturas as suas imponentes igrejas e praças. Em frente ao museu do Memorial da Balaiada, temos a antiga Praça Duque de Caxias, onde se encontram canhões da época da guerra.

O Museu Escola do Memorial da Balaiada oferece-nos um tour de aproximadamente duas horas, onde a história é dramatizada pelos próprios visitantes, uma metodologia criativa e divertida. No museu, além das armas usadas durante a guerra e dos instrumentos de tortura, podemos contemplar também objetos usados pelas elites da época e uma maquete da cidade em miniatura, onde se reconhece as principais igrejas, praças e casas de taipa.

Foto por  David Sousa

Cada peça é uma emocionante prova material da história da terra das águas cristalinas, onde se encontram algumas obras do “seu Antônio Oliveira”, pintor caxiense que foi homenageado pelo Museu e que mostra em seus retratos os sertanejos (vaqueiros, mestiços, índios, escravos e brancos pobres, fazedores de balaio) que participaram da Balaiada, com uma expressão e riqueza cromática inexplicável.

Outro destaque são as obras da artista plástica internacional, a caxiense Tita do Rêgo Silva, que imortalizou em um painel no Memorial da Balaiada as paisagens e lendas da região, como a da sereia dos cabelos de ouro que se esconde no rio Itapecuru.

Os balaios e seus refúgios

Os balaios entram em Caxias entre 1839 a 1841, ocasionando a morte de aproximadamente 10 mil pessoas. Três anos de rebelião popular, com uma ampla massa social, os balaios lutaram por um ideal de liberdade, grito de guerra pela paz, igualdade e fraternidade: “ser balaio é ser líder de um movimento de luta”.

Foto por David Sousa

Durante a guerra que aconteceu no século 19, foram três as igrejas onde os balaios se esconderam: na Catedral da Nossa Senhora dos Remédios, na Igreja de São Benedito e na Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

Catedral da Nossa Senhora dos Remédios aos pés do Morro do Alecrim

A Praça Magalhães de Almeida é uma das mais importantes da cidade, onde se encontram o palácio episcopal e o chamado “palácio italiano”, construção do início do século 19 e residência da família do Sr. Alderico Silva, conhecido como Seu Dá, um grande empresário de sua época. Logo em frente está a Igreja da Matriz, uma das mais importantes da cidade, onde foi assinada a ata da adesão à Independência, e de onde saem imponentes procissões, como a do fogaréu e a via sacra, até os dias de hoje.

Igreja São Benedito e Rosário dos Pretos

Na praça que leva o nome do poeta caxiense Vespasiano Ramos, que nasceu próximo ao Largo de São Benedito, se encontra a igreja do Santo negro. Dentro dela ainda estão os restos mortais de figuras importantes da época enterradas dentro da igreja com lápides portuguesas. A praça é rodeada por frondosas árvores centenárias que brindam os cidadãos e turistas com sua sombra, enquanto as crianças também podem se divertir com os brinquedos de um parquinho. No local se encontra o bar do Cantarelle, onde se reúnem os boêmios caxienses, que jogam conversa fora, onde os principais temas são política, religião e futebol.

Foto por Natalia Bastos

A Igreja Rosário dos Pretos é uma legendária obra católica do século XVIII e só abre para as missas. Frequentada antigamente por uma maioria negra, foi erguida por escravos em 1774, com o dinheiro que eles juntavam para adquirir sua carta de alforria. No pelourinho que havia em frente a ela, os escravos eram açoitados publicamente para servir de exemplo. Nesta região funcionava um ponto comercial da cidade, onde se concentrava a venda de escravos, a troca de mercadorias e de animais, que na época eram bastante valorizados.

Foto por Natalia Bastos

Vale ainda visitar a capela que foi erguida às mar­gens do Morro de Tabocas, em homenagem a Nossa Senhora dos Remédios, padroeira do comércio. Anos mais tarde, após reforma supervisionada pelo enge­nheiro caxiense João Nunes Campos, a igreja trans­formou-se em Catedral, com fachada original altera­da e inclusão do relógio de bronze trazido da Europa.

Riqueza gastronômica

Vale destacar também na cidade, além dos poetas, natureza abundante e artistas de renome, a tradição gastronômica. Não deixe de experimentar o saboro­so Arroz de Cuxá, a Peixada Maranhense a Galinha de Parida, o Arroz Maria Isabel, a Panelada e, para matar a sua sede, a cajuína – refrigerante à base de caju natural muito comum nos estados do Maranhão e do Piauí. Mas para se refrescar mesmo, tome o fa­moso Guaraná Jesus, com fórmula única e que tem o verdadeiro sabor doce do Maranhão. Você encontra essas bebidas na maioria dos restaurantes da cidade.

Foto por Natalia Bastos

Outra dica interessante para quem deseja fazer um lanche saboroso à tarde é experimentar as guloseimas da “Fios de Mel” em dois endereços na cidade. Não deixe de experimentar os bolos artesanais, a pizza fri­ta e os sucos naturais, principalmente o de Bacuri.

Serviço

CLIMA

O verão é ensolarado, quente e seco, com temperaturas mais altas em julho e agosto. Nesses meses, há um gran­de número de turistas na região. Por isso, prefira viajar em maio, junho ou setembro, quando o clima ainda está bom e as cidades ficam um pouco mais tranquilas.

COMO CHEGAR

A maneira mais fácil de chegar a Caxias vindo do Rio de Janeiro, de Brasília ou de São Paulo é pegar um voo para Teresina. De lá, é menos de uma hora de viagem (70 km) até Caxias. Consulte as companhias Azul (voeazul.com.br), Gol (voegol.com.br) e Latam (latam.com).

ONDE COMER

Uma ótima opção é o Restaurante Ipês, com especialida­de de carnes e grelhados localizado na Rua Aarão Réis, 1943. Experimente o frango com queijo ou a peixada brasileira. Outra boa pedida é o restaurante Vinil Bar e Bistrô, que tem buffet completo de segunda a domingo e fica bem na avenida central da cidade. À noite, pratos à la carte com música ao vivo. Informações: facebook. com/vinilbarebistro. Também tem uma deliciosa opção para quem está visitando o Mirante da Balaiada é con­ferir as delícias do Box 06 e experimentar os saborosos espetos na Brasa, comandado por Rony Torres.

ONDE FICAR

O Hotel Alecrim tem apartamentos confortáveis, piscina e um excelente restaurante que se destaca pela gastrono­mia regional e internacional, oferecendo um ótimo café da manhã.

Informações: www.hotelalecrimcaxias.com.br

INFORMAÇÕES TURÍSTICAS

caxias.ma.gov.br

Texto por Cláudio Lacerda Oliva e Natalia Bastos

Imagem Destacada por Natalia Bastos

Os jornalistas Cláudio Lacerda Oliva e Natalia Bastos viajaram a Caxias a convite da Prefeitura Municipal e do Conselho Municipal de Turismo de Caxias.

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