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Bom Jardim é canteiro de belezas mato-grossenses

O rio desliza com delicadeza. Caminha ora em linha reta, ora desenha suaves curvas no solo. Passeia por árvores, plantas, flores, araras, tucanos, macacos… Exibe invejáveis tons verdes-azulados em toda sua extensão, cor adquirida graças à presença de calcário no fundo de suas águas clarinhas. No vaivém da correnteza conduz piraputangas, piavas, piaus, curimbatás e arraias, entre as 33 espécies de peixes, três das quais endêmicas, que ali vivem. Seu nome? Rio Triste, um habitante do Distrito Bom Jardim, em Nobres, município distante cerca de 140 km de Cuiabá, a capital de Mato Grosso.

Localizado a 65 km de distância de Nobres, Bom Jardim ocupa um pedacinho de uma área de floresta de transição, entre o Cerrado e a Floresta Amazônica. A região é ainda um divisor de águas, entre as bacias Amazônica e Platina. Por isso, o pequenino povoado concentra uma enorme quantidade de aves e animais típicos do Pantanal, além de se constituir em palco perfeito para a prática de atividades ecoturísticas, como rapel, tirolesa, cicloturismo e boia-cross.

Bom Jardim também é um endereço bastante concorrido pelos amantes da natureza. Não à toa. Nele não faltam belezas naturais. São nascentes, cachoeiras, cavernas subaquáticas, serras, vales, trilhas e rios e lagoas de água de um intenso azul… No Rio Triste, por exemplo, é possível embarcar em uma aventura inesquecível: o mergulho de superfície (flutuação) em suas águas limpinhas, pontilhadas por peixes.

Foto por Edson Rodrigues/ Gcom MT

O mergulho é feito em um trecho de 1.200 m do rio, com o acompanhamento obrigatório de um guia. O trajeto de aproximadamente 50 minutos de duração dá direito a ver uma infinidade de multicoloridos cardumes. Sua saída é na Fazenda Água Branca, localizada a 18 km de Bom Jardim. O local não tem pousada nem serve refeições, mas fornece colete salva-vidas, máscara com snorkel e calçado adequado.

Antes da “partida”, o guia dá um treinamento e ensina o abecê da flutuação aos participantes. Entre as dicas, alerta o grupo de oito até no máximo dez pessoas para nunca pisar no chão do rio durante o percurso, o que pode resultar em uma dolorida ferroada de uma das muitas arraias que ali ficam escondidas. Sem dizer que pisar no fundo significa fazer a areia levantar prejudicando a visibilidade da água e, ainda, a possibilidade de interferir em um eventual local de reposição de ovos de peixes.

Aulas de flutuação à parte, o passeio custa R$ 65 por pessoa. Crianças de 6 a 10 anos pagam meia-entrada. Menores de até 5 anos, não pagam. Este e os demais “passaportes” para conhecer os paraísos de Bom Jardim podem ser adquiridos nas agências de turismo do distrito – grande parte das pousadas locais também tem sua própria loja de viagens, que disponibiliza os tours.

O nome

De triste, o rio não tem nada. Ao contrário, desfila cores mágicas. Não bastasse, está inserido em um cenário repleto de vida – não é nada difícil encontrar grupos de macacos-pregos de todos os tamanhos e idades, desde os pequeninos aos adultos, pendurados e fazendo peripécias nos galhos das árvores existentes às suas margens.

Sem falar das exóticas aves que tingem o céu e dos coloridos peixes que alegram as suas águas. Apesar disso, o nome do rio é Triste. O motivo? Existem dois, segundo contam no lugar. O primeiro é que um simpático velhinho morava próximo ao rio. Ele sempre cumprimentava todo mundo com um sorriso. Era extremamente bondoso. Acolhia e ajudava a todos que por ali passavam, entre pantaneiros, tropeiros, vizinhos… Um dia ficou doente, faleceu e o rio ficou triste.

A outra versão é uma espécie de Romeu e Julieta à brasileira. O jovem rico, filho de próspero fazendeiro. A moça, filha do capataz da fazenda. Paixão inevitável, assim como a proibição do namoro pelo pai do rapaz. Sem esperanças de as juras de amor eterno serem concretizadas, o casal fez o pacto de se jogar nas águas do rio, dando um fim à vida. O rapaz pulou, morrendo afogado. A moça, não. Por isso, o rio tornou-se triste. Mas, volto a repetir, de tristeza, ele não tem nada, não.

Biodiversidade

Além do mergulho no Rio Triste, Bom Jardim reúne diversos atrativos turísticos situados bem pertinho uns dos outros (estão localizados em um raio de aproximadamente 15 km). A maioria pode ser visitada em apenas um dia. O Aquário Ecológico é um deles. Fica na Pousada Recanto Ecológico Lagoa Azul, onde é disponibilizado um passeio no Aquário Encantado. Com duração de cerca de duas horas, a flutuação, verdadeira aula da biodiversidade brasileira, é feita obrigatoriamente em companhia de um guia. Para flutuar são precisos máscara, snorkel, colete salva-vidas e sapatos adequados.

Outro ponto alto de Bom Jardim são as nascentes que brotam da areia, no Rio Salobra. Situado na Fazenda Reino Encantado, o rio reúne várias espécies de peixes que podem ser observados durante a flutuação e mergulho.  Já o Balneário Estivado é possuidor de um curioso espetáculo protagonizado pela vida aquática. O local é a casa do Rio Estivado, uma piscina natural onde os peixes saltam para fora da água e “pedem” comida, alimentando-se nas mãos dos humanos.

Por sua vez, o Rio Salobão, localizado às margens da MT-241, e a 13 km de Nobres, é ideal para quem deseja fazer mergulho. É necessário utilizar cilindro de oxigênio, roupa adequada para mergulho e pés de pato. Para quem prefere os banhos de cachoeira, as dicas são as do Sesc Serra Azul (com queda de 45 m, lagoa de cor azul e tirolesa) e dos Namorados. Localizada a 5 km do distrito, esta última, na realidade, é uma sequência de três cachoeiras.

Foto por Geraldo Lucio Gcom/ MT

Bom Jardim abriga ainda a Cachoeira do Tombador, distante 7 km do centro de Nobres. E se assunto é a observação de pássaros, o endereço é a Lagoa das Araras. Situada em uma propriedade particular, ficou conhecida por esse nome porque no por do sol, centenas de araras, periquitos e maritacas se aglomeram em seus buritis, espécie de palmeira. O show é imperdível, mas não é único. Este acolhedor vilarejo mato-grossense é um canteiro repleto de belezas a oferecer. É ir e conferir!

Quando ir

Em geral, o Mato Grosso tem duas épocas: a cheia (de novembro a março) e a seca (de abril a outubro). Período marcado por chuvas incessantes, a época de cheia não é a melhor para ir. Os temporais intermitentes interferem na visibilidade da água, dificulta e alaga os trajetos (a maioria dele é feito em estradas terra) e costumam turvar a água dos rios, lagos e cachoeiras, prejudicando os mergulhos.

Foto por José Medeiros/Gcom-MT

O que não pode faltar na viagem

Não deixe de levar na bagagem o protetor solar, mas não use o produto se for fazer flutuação ou nadar em rios e lagoas, evitando a contaminação química da águas. Repelente também é absolutamente imprescindível, pois mosquitos de insaciável apetite não faltam na região.

Onde ficar

Pousada e Agência de Turismo Bom Jardim. Simples e rústica, mas muito confortável. O quarto conta com ar-condicionado, frigobar, televisão e wi-fi. A diária inclui café da manhã. Como acontece em quase todas pousadas do distrito, a Bom Jardim também é uma agência de turismo e comercializa pacotes de passeios na região.

Rodovia MT 241, km 65, Distrito Bom Jardim, Nobres, Mato Grosso, tels.: (65) 3102-2018, (65) 9689-7033 e (65) 9989-7968.

Texto por: Fabíola Musarra

Foto destaque por José Medeiros  Gcom/ MT

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